Prefeito de Barão de Cotegipe, município de 6,7 mil habitantes no norte do Estado, Vladimir Luiz Farina (PP) acompanha com perplexidade a discussão que ocorre em Porto Alegre.
Um manifesto assinado por 400 pessoas pede que a rua de mesmo nome, no bairro São João, na Capital, deixe de homenagear o barão que liderava, no fim do século 19, a bancada escravagista no Senado imperial. Cotegipe (1815-1889) foi um dos únicos parlamentares que votaram contra a Lei Áurea.
– A cidade nem sabia disso. A história que contam é que, naquela época, como senador, ele se hospedou por aqui, e isso foi um marco. Tu imagina um barão, lá do Império, em uma cidadezinha – diz o prefeito Vladimir.
Segundo ele, é por isso que, em 1964, quando se emancipou de Erechim, o município foi batizado assim. Nunca houve polêmica em torno do nome. A empresa que mais emprega na cidade, por exemplo, produz a conhecida erva-mate Barão – que, na embalagem, carrega uma estilizada imagem de Cotegipe.
– Me pegou até meio desprevenido isso, porque a gente nem sabe o que falar – resume o prefeito.
O manifesto contra Cotegipe
Mais de 30 entidades e quase 400 pessoas, entre historiadores, professores, profissionais liberais, funcionários públicos e militantes da causa negra, assinam o Manifesto Contra o Racismo na Rua (leia a íntegra aqui). O documento pede que a Câmara de Vereadores, na Capital, discuta um novo nome para a Rua Barão do Cotegipe, no bairro São João.
"Em um tempo em que o mundo confronta o racismo, onde estátuas de racistas são derrubadas, é preciso derrubar o nome de uma figura associada a uma nefasta época da história brasileira: o escravismo. Porto Alegre não pode manter essa homenagem", diz um trecho do texto.
Líder da bancada escravagista, Cotegipe foi um dos seis senadores – eram 71 no total – que votaram contra a aprovação da Lei Áurea, que propunha interromper um dos capítulos mais pavorosos da história brasileira. O barão já era atrasado naqueles tempos: todos os países do Ocidente, exceto o nosso, já tinham abolido a escravidão.