Mergulhadas em prejuízo, as empresas de ônibus anunciaram que vão suspender a operação de 12 linhas em Porto Alegre. A prefeitura terá de dar um jeito, ou a cidade vai parar: boa parte dos passageiros, em meio à pandemia, atua em atividades fundamentais para a Capital seguir seu fluxo.
São funcionários da saúde, atendentes de farmácia, caixas de supermercado, porteiros, seguranças, coletores de lixo. Pessoas que, em grande medida, vivem nas periferias – não podem pagar corridas de aplicativo, porque elas custam R$ 50 até a região central, onde a maioria trabalha.
Mas foi justamente a concorrência dos aplicativos que, bem antes do coronavírus, já empurrava para a falência o transporte coletivo. Quem mora em bairros centrais, pertinho do trabalho, pôde trocar os ônibus por uma opção mais confortável – e mais barata do que os táxis. Os ônibus, então, passaram a ser sustentados pelos mais pobres, o que é uma violência.
Nos últimos três meses, veio a pá de cal. A debandada de passageiros, que já crescia nos últimos cinco anos, chegou a 80% na pandemia. As concessionárias calculam um prejuízo de R$ 46 milhões em 90 dias. Estão parcelando salários (inclusive de motoristas e cobradores) e atrasando o pagamento do diesel. Agora, exigem que a Carris assuma as 12 linhas que serão suspensas.
O argumento é razoável: a Carris deve R$ 4,2 milhões para o sistema de transporte coletivo – como a estatal opera linhas de menor custo, ela teria de pagar compensações financeiras que, desde 2018, não vem pagando. Segundo as concessionárias, essa dívida seria quitada se a Carris operasse por dois meses as linhas abandonadas.
A prefeitura, até aqui, não informou se topa ou rejeita a proposta. Embora a intenção seja pressionar os vereadores – já que um pacote de projetos para amenizar a situação está parado na Câmara desde janeiro –, alguma medida emergencial será necessária. Marchezan chegou a falar em chamar o Exército. O mais provável é que acabe chamando a Carris.