Tenho recebido e-mails assustados desde o início da semana. Muita gente acredita que agora, com mais movimento na rua, mais porto-alegrenses ficarão doentes. E que, por isso, não deveríamos ter relaxado o distanciamento social.
Vamos por partes. É verdade, sim, que mais gente pode ficar doente. Porque, se aumenta o número de pessoas na rua, aumenta a circulação do vírus. Só que o distanciamento social não existe para evitar que as pessoas fiquem doentes – muitas vão ficar, mais cedo ou mais tarde.
O distanciamento social existe para garantir que o poder público tenha tempo de reforçar o sistema de saúde. Quer dizer: a ideia é que as pessoas, ao se isolarem em casa, não fiquem todas doentes ao mesmo tempo. Assim, é possível achatar a curva de infectados e diluir, em um período de tempo maior, a grande quantidade de pacientes que chegará aos hospitais.
Pois bem. Nos últimos dois meses, ao adotar um distanciamento que começou mais cedo – e com maior intensidade – do que na maioria das cidades, Porto Alegre fez o tema de casa: ampliou bastante sua capacidade de atendimento. A situação é muito, mas muito mais tranquila do que o horror que vemos em Manaus, Fortaleza, São Luís, Rio de Janeiro, Belém e outras capitais.
Nesta sexta-feira (8), apenas 10% dos leitos de UTI estavam ocupados por pacientes com covid-19. Ou seja, Porto Alegre agora tem uma estrutura preparada e consistente para receber uma boa quantidade de infectados – até aqui, são 290 leitos só para coronavírus e capacidade para testar 20 mil pessoas por mês. É justamente nesta hora, em qualquer lugar do planeta, que o distanciamento social começa a ser afrouxado.
Mais atentas, as pessoas voltam às ruas com uma nova cultura: usam máscara, mantêm distância entre elas, evitam contato físico. Isso também atenua a circulação do vírus. Mas ainda é fundamental que continue em casa quem puder ficar em casa. Só daqui a uma semana, segundo a prefeitura, é que vamos entender o impacto real no sistema de saúde.
Por enquanto, há mais motivos para se acalmar do que se assustar.