– Aquele lugar ficou segregado, parece um apartheid – reconhece o secretário municipal da Cultura, Luciano Alabarse, ao falar sobre o Complexo Cultural do Porto Seco, que há 16 anos recebe o Carnaval de Porto Alegre.
Na sexta e no sábado, 24 escolas de samba dos grupos ouro, prata e bronze vão desfilar no sambódromo. A coluna defendeu nesta terça-feira (3) que elas retornassem ao centro de Porto Alegre – de onde foram expulsas, em 2003, após um movimento mesquinho e discriminatório contra a cultura popular.
Alabarse afirma que há dois anos vem tentando levar o evento de volta à região central da cidade:
– Adoraria fazer uma experiência no Centro outra vez. Nem que fosse para concluir que estamos errados, que as escolas deveriam ficar onde estão.
Mas, segundo o secretário, são os dirigentes das agremiações que precisam topar. Alabarse diz que não cabe a ele, no canetaço, tomar uma decisão que perderia o sentido sem o aval dos principais interessados. E os principais interessados têm suas ressalvas.
– Claro que voltar para o Centro seria ótimo. É perto de tudo, mais pessoas iriam, ajudaria no crescimento turístico e econômico do Carnaval – diz o presidente da União das Escolas de Samba de Porto Alegre (Uespa), Rodrigo Costa, para depois ponderar: – Só que o Porto Seco, com todos os problemas, tem uma estrutura que para nós é fundamental.
Rodrigo se refere aos 10 barracões instalados no complexo da Zona Norte. É neles que as escolas montam as alegorias durante o ano – e, na hora de desfilar, só precisam levar os carros até a avenida.
– Antigamente, a gente alugava o espaço para a construção das alegorias. Depois, precisávamos atravessar a cidade com carros alegóricos em cima dos caminhões. Aí os carros batiam na rede elétrica, quebravam, estragavam. Dava um baita prejuízo – recorda o presidente da Uespa.
Segundo ele, o espaço ideal para um novo sambódromo seria o trecho do Cais Mauá ao lado da Rodoviária: uma área ociosa, hoje degradada, que devolveria o Carnaval à região central:
– Sou motorista de aplicativo, então, quando passo ali, depois da Castello Branco, em direção ao Túnel da Conceição, fico sonhando com aquele lugar.
O problema é que a região, por ser portuária, nem pertence ao município: é meio federal e meio do Estado. Já o Carnaval, infelizmente, ainda é do Porto Seco.