Se a Câmara de Vereadores aprovar os cinco projetos que o Executivo propõe, Nelson Marchezan entrará para a história como o prefeito que promoveu a maior revolução no transporte coletivo em uma cidade brasileira.
Porto Alegre deixaria o posto de capital com a passagem mais cara do país (R$ 4,70) – à frente de Belo Horizonte (R$ 4,50), Curitiba (R$ 4,50) e São Paulo (R$ 4,40) – para fincar seu nome na vanguarda internacional: a tarifa de ônibus cairia para R$ 2, estudantes pagariam R$ 1 e os trabalhadores teriam passe livre.
A questão é que, para bancar essa revolução, o pacote vem cheio de controvérsias. Não será fácil convencer os vereadores – nem a sociedade – a aceitar uma espécie de pedágio para todos os carros emplacados fora da Capital que entrarem em Porto Alegre. Cada veículo pagaria R$ 4,70.
Outra proposta arrojada é o fim do vale-transporte. As empresas passariam a pagar à prefeitura uma taxa, mais barata que o VT, por cada um de seus funcionários – inclusive pelos funcionários que não andam de ônibus. Com isso, todas as pessoas que trabalham com carteira assinada na Capital estariam isentas da passagem.
São ideias que precisam ser debatidas, que podem ser contestadas, mas seu mérito é serem justamente o que são: ideias. Com o sistema de ônibus à beira da falência em Porto Alegre – foram 56 milhões de giros de roleta a menos em 2019 –, não dá para ficar assistindo ao velório sem fazer nada. Discorda dessas ideias? Tudo bem, mas quais são as suas?
Em qualquer cidade onde o transporte coletivo funciona existe algum subsídio para financiar a passagem. Londres cobra pedágio dos carros que acessam a região central. Paris obriga as empresas a pagarem uma taxa por funcionário. Nova York vai exigir US$ 10 (R$ 42), a partir de 2021, de todo veículo que entrar no sul de Manhattan.
Aqui, outra proposta de Marchezan é taxar os serviços de transporte por aplicativo: eles pagariam R$ 0,28 por quilômetro rodado. Só essa medida, segundo a prefeitura, reduziria em R$ 0,70 o valor da passagem. E nada pode ser mais justo do que exigir algum retorno de empresas que, ao todo, têm 25 mil carros usando a malha viária da cidade. Qualquer banquinha de cachorro-quente paga para se instalar no espaço público – por que os aplicativos seriam poupados?
Tomara que a Câmara de Vereadores faça um debate maduro. Discordar é saudável, mas não para soterrar a discussão: é saudável para construir a melhor ideia.