Nenhum novo prédio em Porto Alegre – seja comercial ou residencial – precisará ter garagem a partir de agora. É o que determina o decreto que o prefeito Marchezan vai assinar às 10h desta sexta-feira (1º), no Salão Nobre do Paço Municipal.
Antes, as vagas de estacionamento eram obrigatórias: quanto maior a área construída, maior era o espaço para carros que o prédio precisava oferecer. Essa exigência, segundo o secretário municipal do Meio Ambiente, Germano Bremm, não faz sentido no "conceito mais contemporâneo de urbanismo":
– Vamos deixar o mercado regular. Se ele entender que, para aquele público, para aquele perfil de empreendimento, as vagas são importantes, elas ficam. Se entender que não, elas saem.
Bremm afirma que uma série de construções, obrigadas a se adaptarem à exigência das garagens, acabava sendo erguida em regiões mais distantes da Capital. Porque nas áreas centrais, conforme ele, não havia mais espaço para receber tanta vaga de estacionamento.
Isso fazia com que a infraestrutura da cidade fosse mal aproveitada: afinal, quanto mais pessoas estiverem próximas dos centros urbanos – onde é maior a oferta de transporte coletivo, redes de esgoto, iluminação pública, escolas, postos de saúde e outros serviços –, melhor tende a ser a qualidade de vida da população.
– Empreendimentos de interesse social, como condomínios do Minha Casa Minha Vida, além de serem construídos longe do Centro, com frequência ficavam com as garagens ociosas. Porque os moradores, muitas vezes, não tinham condições de ter um carro – diz o secretário.
Ele também menciona prédios com apartamentos no estilo estúdio, normalmente projetados para jovens solteiros. É comum, conforme Bremm, esses proprietários preferirem outras alternativas de transporte, como os aplicativos, sem qualquer ambição de um dia ter um carro próprio.
O impacto mais imediato seria na vitalidade, na animação, no movimento térreo dos empreendimentos.
De fato, há uma tendência mundial de redução das garagens. Urbanistas entendem que essa é uma forma, em primeiro lugar, de desestimular o uso do carro. Mas o impacto mais imediato seria na vitalidade, na animação, no movimento térreo dos empreendimentos: hoje, a parte de baixo frequentemente é estéril, sem vida, porque aquele espaço é para estacionar.
Se houvesse mais lojas, bares e praças junto ao solo, acredita-se que a concentração de pessoas – aliada à atividade econômica – levaria mais segurança e desenvolvimento para a região. Essa, inclusive, é uma ideia que Marchezan vem defendendo desde o início do mandato.
A pergunta que fica é: menos garagens significarão mais carros estacionados na rua? É possível. Mas, com as vagas na rua mais concorridas, talvez valha a pena deixar o carro em casa.