Não é jogo de cena – Marchezan gosta de Paim e Paim gosta de Marchezan. Mas sabe como é política: dentro do PP, partido do vice-prefeito, a maioria quer vê-lo na cabeça de chapa na próxima eleição. E, para concorrer a prefeito, Gustavo Paim se tornaria adversário de Marchezan – que deve tentar a reeleição no ano que vem.
A situação tem seus desconfortos. Desde 2017, o vice também exerce a função de secretário de Relações Institucionais – pasta responsável pelo contato com os vereadores, com a sociedade civil e com as comunidades. É razoável que o prefeito queira ver essa função, importante para construir relações, sendo exercida por quem, ali adiante, vá continuar com ele.
Portanto, segundo pessoas próximas de Marchezan, a tendência é Paim ser substituído nas próximas semanas. Quem assumiria as Relações Institucionais seria Christian Lemos (PSDB), chefe de gabinete do prefeito. Só que a provável troca irritou o PP. Porque, na semana passada, outro membro do partido, o secretário do Meio Ambiente, Maurício Fernandes, já havia sido exonerado.
– O PP está sendo alijado do primeiro escalão e, portanto, impedido de entregar para a sociedade os projetos que defendemos durante a campanha – protestou na tribuna da Câmara, na terça-feira, o líder da bancada do partido, vereador Ricardo Gomes.
De fato, se ficar confirmada a saída de Paim da Secretaria de Relações Institucionais, a sigla que viabilizou em 2016 a eleição de Marchezan ficará sem secretário algum. Dizem, nos bastidores, que a baixa adesão do PP ao projeto do IPTU, em abril, teria sido a gota d’água para o prefeito. Há controvérsias: dias atrás, o vereador João Carlos Nedel, do PP, foi convidado para assumir a Secretaria Municipal de Infraestrutura. O partido não quis.
A explicação é meio complexa, vamos por partes. Em abril de 2020, por lei, todos os secretários que quiserem disputar a eleição terão de deixar a prefeitura. O titular da pasta de Serviços Urbanos, por exemplo, Ramiro Rosário (PSDB), que é vereador eleito, vai retornar a sua cadeira na Câmara – o que obrigará o primeiro suplente, Moisés Barboza (PSDB), hoje substituto de Ramiro, a deixar o parlamento.
Mas – atenção –, se em abril o vereador Nedel estiver como secretário (ele já anunciou que não será candidato à reeleição), então Moisés poderá seguir na Câmara. Porque, embora seja do PSDB, Moisés é o primeiro suplente também do PP, já que os dois partidos se coligaram em 2016. Quer dizer: o PSDB, que hoje só tem um vereador, passaria a ter dois. E o PP, que hoje tem quatro, ficaria só com três.
É um rolo. Ainda ontem, ao lançar o Orçamento Participativo Digital, na prefeitura, Marchezan elogiou Paim “como parceiro no enfrentamento das dificuldades”. Talvez os dois se defrontem no próximo pleito, é verdade, mas, ao menos até aqui, não é nada pessoal.