Junte uma turma de despreparados, sem vontade de ouvir quem entende do assunto, e pronto: para resolver uma infestação de cupins, vão tacar fogo na casa. Foi o que fizeram no Rio de Janeiro.
Se o governador Wilson Witzel sancionar o projeto que a Assembleia Legislativa aprovou na semana passada, as patinetes elétricas de aluguel, na prática, ficarão inviabilizadas no Estado – o que é ruim para mobilidade, economia, turismo e lazer, além de um passo na contramão das inovações que seduzem o mundo inteiro.
Ninguém nega que as patinetes incomodam. As empresas, de fato, introduziram no espaço público um elemento estranho sem sequer educar as pessoas sobre como usá-lo – e sobre como se proteger dele. Além de uma nova modalidade de acidentes, criaram um estorvo para a forma mais democrática e natural de locomoção: o deslocamento a pé.
Mas como se resolve o problema? Com uma regulamentação que imponha regras para o convívio harmônico das patinetes com o espaço urbano. Só isso. Mas, no Rio de Janeiro, os deputados aprovaram a estrambólica exigência de uma prova no Detran para quem quiser pilotar o aparelho – e ainda querem que as empresas depositem um cheque-caução, no valor de R$ 1,7 mil, por cada usuário sem seguro. Não há empreendedor que aguente.
Na prefeitura de Porto Alegre, o grupo que estuda a regulamentação, prevista para sair em julho, felizmente considerou absurdas as normas do Rio. As discussões, aqui, referem-se mais aos locais onde as patinetes poderão ser estacionadas: não dá mais para as empresas largarem um mundaréu delas em qualquer calçada.
Embora outros países estejam (corretamente) proibindo a circulação dos aparelhos nas calçadas, por aqui essa mudança depende de uma legislação federal. Mas, sobre os capacetes, a ideia da prefeitura é recomendá-los, mas não torná-los obrigatórios – que é para o piloto desfrutar da espontaneidade que caracteriza esse tipo de modal: o usuário pode, por exemplo, desistir de pegar um Uber na última hora porque, de patinete, vai escapar do engarrafamento.
Vão nessa linha as regulamentações que melhor funcionaram na Europa e nos Estados Unidos. Os técnicos daqui têm buscado inspirações lá. Uma boa tática para resolver a infestação de cupins sem tacar fogo na casa.