Não deu para engolir a explicação da prefeitura sobre o fim do último Restaurante Popular de Porto Alegre. Até a semana passada, quando encerrou as atividades, o bandejão da Rua Santo Antônio era o único lugar da cidade onde garis, aposentados, moradores de rua, desempregados e famílias inteiras de baixa renda almoçavam por R$ 1.
A secretária de Desenvolvimento Social, Comandante Nádia, informou que as refeições agora serão exclusivamente para quem vive na rua ou dorme em albergues – e não custarão mais nada, serão de graça. Nas próximas semanas, haverá uma estrutura provisória no Ginásio Tesourinha e, dentro de 60 dias, a expectativa é de que cinco novos restaurantes estejam funcionando em diferentes regiões da cidade.
É louvável a intenção da prefeitura de ampliar o atendimento aos moradores de rua – o governo Marchezan, aliás, tem se saído bem nessa área. Mas também é inegável que hoje já existem, em Porto Alegre, instituições dedicadas a acolher a população sem teto. O que não existe, com o fim do bandejão, é um serviço social que ofereça a desempregados e trabalhadores de baixa renda um almoço a preço baixo.
Publicada na quinta-feira, em GaúchaZH, uma reportagem de Alberi Neto mostrou gente paupérrima que só conseguia pagar uma pensão para morar com a família porque o gasto diário com comida, no Restaurante Popular, era pequeno. Desde a semana passada, esse pessoal que pagava R$ 1 por almoço vem gastando R$ 10 para comer nos locais mais baratos da cidade.
Não existe um risco aqui? Não parece óbvio que essas pessoas – hoje ainda abrigadas por um teto – talvez precisem viver na rua para conseguir comer? Seria um desastre.
Em um país com 14 milhões de desempregados, onde a comida é caríssima – a cesta básica em Porto Alegre, segundo o Dieese, só não custa mais do que em São Paulo e Rio –, fechar o bandejão sob a desculpa de ajudar "quem mais precisa" definitivamente não colou.