Durante o horário de almoço, o som das conversas e a animação dos frequentadores costumava reverberar pelo ambiente do Restaurante Popular de Porto Alegre, no bairro Floresta. O barulho fazia com que fosse necessário falar mais alto para ser compreendido. Mas, nesta quinta-feira (9), o clima era diferente. Bem mais quietos, os clientes ali presentes saboreavam a última refeição servida no local ao custo de R$ 1. Na data, encerrou o contrato firmado entre a prefeitura e a empresa Mix Refeições Corporativas, em 2015.
Sem saber onde iriam almoçar dali para frente, os frequentadores questionavam os repórteres presentes no local na espera de uma boa notícia, invertendo a lógica da entrevista. Atualmente, qualquer pessoa poderia comer no local, por isso, famílias de baixa renda eram facilmente encontradas na fila.
Elisângela da Silva Silveira, 34 anos, e o marido, Luciano Ferreira Amaro, 49 anos, por exemplo, moram em uma pensão. Sem emprego, usam o pouco que ganham em doações para almoçar no local e pagar a moradia provisória da família, que ainda é composta por duas meninas, de 10 e dois anos. Com R$ 2, os quatro se satisfaziam. Agora, não mais.
– Amanhã (sexta-feira) vou cedo para o Centro, ali pela Praça XV. Vou ficar lá pedindo, para ver se consigo alguma coisa para as crianças comerem no almoço – conta ela.
Personagens
Os rostos que frequentavam o local eram conhecidos. Marisol Rodrigues, 47 anos, conhecida como Sol, é uma destas personagens. Sentada em uma mesa perto da janela que dá vista para a Rua Santo Antônio, onde fica o prédio do restaurante, ela esboçou a sensação de almoçar pelo última vez no "bandejão", apelido dado pelos frequentadores.
– Vamos voltar àquela rotina antiga de pedir comida nos restaurantes ou tentar trazer algo de casa, para quem tem uma casa. É triste, conheci muita gente aqui, fiz muitos amigos – lamentava Sol.
Com a intenção de evitar a volta aos tempos em que pedia comida na rua, Paulo Águas, 41 anos, vai aumentar seu empenho vendendo o jornal Boca de Rua, veículo independente criado e comercializado por moradores de rua. Com o dinheiro da venda, Paulo pretende achar outros locais baratos para almoçar.
– Nunca vai ser tão barato como aqui, mas vou continuar tentando almoçar com frequência – projeta Paulo.
A pensionista Eloá da Silva, 67 anos, possui renda mensal de meio salário mínimo. O dinheiro é usado para pagar por uma peça onde ela vive, na Vila Taquareiras, na Zona Sul. Com o que sobra, ela almoçava no Restaurante Popular. Agora, Eloá diz que o almoço vasto, com arroz, feijão, carne e saladas, será obtido somente aos finais de semana, quando ela vai em eventos solidários organizados por grupos sociais sob alguns viadutos da cidade. O resto da semana ainda tem cardápio incerto:
– Gosto de comer ovo, então, vou fazer bastante ovo cozido. É o que eu tenho em casa.
Pelo menos 60 dias para reabertura
Conforme a secretária de Desenvolvimento Social e Esporte (SMDSE) de Porto Alegre, Nádia Gerhard, adiantou na edição de ontem do Diário Gaúcho, cinco novos estabelecimentos devem ser abertos pela prefeitura. O edital de licitação deve ser lançado no final do mês. Segundo Nádia, em 60 dias, no mínimo, a prefeitura espera estar com os restaurantes abertos. Porém, os novos modelos devem atender apenas moradores de rua e pessoas que não têm condições de pagar por alimentação. Atualmente, pagando um R$ 1, qualquer pessoa poderia almoçar no restaurante. Recentemente, servidores do município fizeram o cadastro dos usuários do estabelecimento.
Nádia também adiantou que os novos restaurantes não devem ter mais a cobrança de R$ 1. O almoço será servido gratuitamente. As sedes ficarão espalhadas por todas as zonas da cidade, garante a titular da SMDSE.