Depois que a coluna mostrou o estado de abandono da Rua Marielle Franco – via batizada nesta semana pela Câmara de Porto Alegre –, o vereador Roberto Robaina (PSOL), do mesmo partido da parlamentar assassinada em março, informou que pedirá a revogação da homenagem.
Durante os oito meses de tramitação no parlamento, a proposta de Rodrigo Maroni (Podemos) para nomear a viela de 60 metros, que lembra um terreno baldio no bairro Hípica, não sofreu contestações de Robaina:
– Marquei bobeira. Não assinei o projeto por entender que deveria ser melhor pensado, mas o tempo foi passando e esqueci do assunto. Esperei que a proposta fosse ao plenário, mas acabou sendo aprovada sem votação.
Segundo o regimento interno da Casa, nomes de ruas devem passar por três comissões da Câmara – só vão a plenário se algum vereador apresentar requerimento. O projeto de Maroni foi aprovado em todas as comissões em que tramitou e recebeu 10 assinaturas, incluindo a de Fernanda Melchionna, que é do PSOL.
Agora, Robaina terá de propor um nova nomeação à Rua Marielle Franco. Por se tratar de troca de nome, o projeto – agora, sim – deve ir a plenário e ainda precisa de dois terços dos votos.
– Se eu conseguir aprovar, vou procurar outra rua e conversar com os moradores para botarmos o nome da Marielle – projeta o vereador.
Contrariado com o texto publicado ontem, Maroni reiterou, em nota, sua intenção de homenagear Marielle, assim como fez com a policial catarinense Caroline Pletsch, morta por assaltantes no Rio Grande do Norte.
Segundo ele, o novo nome da viela no bairro Hípica pode “chamar atenção para esses bairros mais pobres, para que tenham mais atenção da prefeitura, (...) melhorando o dia a dia de seus moradores”.
Leia a íntegra da nota do vereador Rodrigo Maroni
Em abril desse ano decidi prestar tributo a duas grandes lutadoras brasileiras que foram brutalmente assassinadas pelo trabalho que realizavam, a vereadora carioca Marielle Franco, morta por seu trabalho em defesa dos direitos humanos, e a policial catarinense Caroline Pletsch, morta por defender justamente a vida de pessoas. Ambas foram indicadas para nomearem ruas em Porto Alegre, através de projeto de lei protocolados na Câmara de Vereadores.
Apesar do meu trabalho ser a causa animal, que pouco tem de políticas públicas e carente de atenção em todos os níveis governamentais, e de não ser o objetivo do meu mandato a nomenclatura de ruas, como é de muitos políticos tradicionais, a homenagem foi realizada por essas duas mulheres representarem todas as vítimas de assassinatos que ocorrem no país inteiro e que, muitas vezes, nem sequer tem uma nota publicada no jornal. Não há motivos políticos ou partidários, seja de esquerda ou direita já que esse não é o foco desse tributo.
A escolha das vias é realizada através de listagem definida pela Prefeitura de logradouros ainda sem denominação. Localidades da cidade que ainda não tem nome prejudicam os habitantes pois eles ficam sem indicação de endereço. Ter sido escolhida uma via em um bairro mais simples não deveria ser motivo para críticas, já que não apenas bairros nobres devem ter pontos simbólicos. Inclusive, condiz com o trabalho de Marielle Franco que sempre lutou pela população mais pobre.
Espero que essa homenagem possa ainda chamar a atenção para esses bairros mais pobres para que tenham mais atenção da Prefeitura, valorizando a rua, localidade e melhorando o dia-a-dia de seus moradores.