Depois de 25 anos alfabetizando crianças em São Luiz Gonzaga, no noroeste gaúcho, Edit Moreira de Prado, 82 anos, resolveu ensinar adultos. Ela luta há mais de ano para fazer os vizinhos, no bairro Rio Branco, em Porto Alegre, aprenderem a separar o lixo.
– A geração que está chegando já tem essa consciência. Precisamos orientar os mais velhos, que são os que mais poluem – avalia ela.
No prédio de três andares onde vive, dona Edit fixou no térreo um cartaz com “12 coisas que você provavelmente não sabe sobre separação do lixo” – a caixa de pizza, por exemplo, deve ser dividida antes de ir fora: a parte de cima, engordurada pelo queijo, é resíduo orgânico, enquanto a de baixo é resíduo seco.
Depois, passou a averiguar se os moradores dos 12 apartamentos seguiam as orientações. Ela não se constrange em espiar os contêineres da rua para garantir que está tudo em ordem – já chegou a tirar roupa e brinquedo de um, destinado aos orgânicos, para largar na frente do condomínio ao lado e alertar a síndica.
– Tem gente que não gosta, me chama de velha chata. Mas eu não ligo, só faço o que tem de ser feito – diz dona Edit, que conta ter sido apelidada de Sargentona nos tempos de professora.
A obsessão pelo descarte adequado começou no ano passado. Ao visitar unidades de triagem com uma associação do bairro, espantou-se com a quantidade de material reciclável inutilizado por conta da separação inadequada. A Secretaria de Serviços Urbanos informa que, entre as 1,1 mil toneladas de lixo doméstico produzidas todo dia em Porto Alegre, pelo menos 260 poderiam ser recicladas se o descarte fosse correto.
A última de dona Edit foi no Parque Ramiro Souto, a área cercada entre o parquinho da Redenção e o Auditório Araújo Vianna, onde ela faz ginástica três vezes por semana. Na parede da sede administrativa, do lado de fora, pendurou quase 30 cartazes com dicas, leis, estatísticas e o impacto do lixo no ambiente. Todos feitos à mão, com folha de ofício, canetinha, colagens, barbante e prendedor de roupas.
A eterna professora sempre diz que pretende chegar à idade do pai, que morreu aos 96. Até lá, seguirá defendendo o que acredita ser importante – no Rio Branco, no Ramiro Souto ou onde for:
– Se precisarem de mim, estou disposta a ajudar em qualquer lugar da cidade.