Há quatro décadas vivendo na rua, Loreni Alves da Silva, o Índio, 47 anos, construiu uma espécie de motor home – só que sem motor – e lá dentro improvisou a própria cama, uma cozinha e dois armários.
Com menos de dois metros quadrados, a casinha era fundamental para ele "ficar mais sozinho". Não que seja um antissocial, pelo contrário: Índio fala sem parar enquanto termina de moldar um helicóptero de arame, que pretende vender por R$ 10.
– É que a maioria do pessoal que anda em grupo, aqui na rua, usa droga e toma cachaça. Não curto essas coisas, então prefiro ficar no meu canto – explica ele, que hoje mantém seu lar estacionado na Praça Isabel, a Católica, no entroncamento da Borges de Medeiros com a Aureliano de Figueiredo Pinto.
No fim do mês passado, um dos grafiteiros mais prestigiados do Estado se encantou com a casinha. Celo Pax, responsável por cobrir centenas de muros e prédios na Cidade Baixa, se ofereceu para colorir as paredes.
– Ficou show, né? Toda colorida, bem alegre, dá para ver a casinha de longe – orgulha-se Índio.
Órfão de pai e mãe desde os cinco anos de idade, ele diz que nasceu em uma reserva indígena, mas nem lembra em qual cidade. Perguntado se a vida é muito dura por ali, responde balançando a cabeça:
– Difícil é doença, que deixa a gente em cama de hospital. Eu vivo bem aqui.