Um dos autores do grafite que mostrava a cabeça de Jesus Cristo em uma bandeja, exposto na fachada do Instituto Goethe, em Porto Alegre, o paulista Rafael Augustaitiz não esconde: seu trabalho critica, sim, a religião.
Na madrugada de terça-feira (1º), alguém revoltado com a obra – que faz parte da exposição Pixo/Grafite: Realidades Paralelas – decidiu apagar a cabeça de Jesus com tinta preta. Ao lado, escreveu "Ele ressuscitou". O contra-ataque veio rápido: o muro amanheceu nesta quarta-feira (2) com a irônica inscrição "Ai, meu Deuso!" por cima de tudo.
Em contato com a coluna por Facebook, Rafael descreveu sua obra como "Teolorgia 171", uma mistura de teologia com o artigo 171 do Código Penal, o estelionato. A imagem, portanto, seria uma forma de mostrar como as pessoas usam a religião para obter vantagens em cima de outras.
Segundo o artista, a cabeça de Jesus Cristo, vermelha e com olhos amarelos, simbolizava sua transformação em um demônio. "Deus, ao ser decapitado, virou Diabo", escreveu ele em conversa com a coluna.
Rafael Augustaitiz – que assina a obra com o gaúcho Amaro Abreu – acumula polêmicas em seu currículo. Também conhecido como Rafael Pixobomb, ele liderou a pichação do Centro Universitário Belas Artes, em 2008, quando 40 pessoas invadiram o local – acabou expulso da faculdade em seu último dia de aula, antes de se formar.
Dois anos depois, ele foi preso por vandalizar uma instalação da Bienal de São Paulo que mantinha três urubus vivos. "Liberte os urubu (sic)", pichou Rafael na ocasião.
Os ataques à sua obra na fachada do Instituto Goethe levaram um grupo de 30 intelectuais, artistas e professores universitários a protestar em frente ao local nesta quarta-feira (2), pedindo liberdade artística. À coluna, Rafael Pixobomb não respondeu se as pichações por cima do seu trabalho o incomodaram.