Cerca de 30 pessoas — entre artistas, jornalistas e admiradores de arte — reuniram-se no final da manhã desta quarta-feira (2) em frente ao Instituto Goethe, em Porto Alegre, para protestar contra as manifestações contrárias que o espaço vem recebendo por conta da exposição Pixo/Grafite: Realidades Paralelas. Um mural que integra a mostra teve a imagem da cabeça de Jesus Cristo em uma bandeja coberta com tinta preta na madrugada de terça-feira (1º), e a frase "Ele ressuscitou" foi escrita em branco. Nesta quarta-feira, o muro amanheceu com os dizeres "Ai, meu deuso!" escritos em verde.
Em uma ação que durou pouco mais de um minuto, os manifestantes discursaram em defesa da arte e da democracia.
— Pelo Instituto Goethe, aqui estamos! Pela arte urbana, pela verdadeira liberdade, e que a cidade pare de sangrar — afirmou Francisco Marhsall, historiador e professor da UFRGS.
Diretora do Instituto de Artes da UFRGS, Lucia Carpena atribuiu os ataques a "grupos reacionários organizados", que trabalhariam para combater e censurar movimentos culturais em Porto Alegre.
— Há uma intenção de cerceamento a qualquer liberdade de expressão. Como a bandeira deles é cristã, eles atacam tudo o que consideram ofensivo. Eles têm uma compreensão baixíssima do que significa a arte, do que significa a recepção da arte, os propósitos e os meios da arte —afirmou.
Curador da polêmica mostra Queermuseu — Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, encerrada precocemente pelo Santander Cultural após receber acusações de promover blasfêmia contra símbolos católicos e conter obras que faziam referência à pedofilia e à zoofilia, Gaudêncio Fidélis acredita que o cerceamento às manifestações artísticas deve ser analisado com cuidado, com seus efeitos medidos a longo prazo.
— Esse ataque é no universo dos costumes, para quando se acirrar a instalação de um movimento fundamentalista, o imaginário social estar acostumado a uma sociedade mais conservadora. A gente não pode ver isso com imediatismo, tem que entender o que está acontecendo em perspectiva — defendeu.
Na tarde desta quarta, o Instituto Goethe divulgou uma nota afirmando que está analisando as manifestações.
Leia a nota na íntegra:
"A direção do Goethe-Institut Porto Alegre está analisando as manifestações recebidas em decorrência da pintura do muro de sua sede, em Porto Alegre, parte da exposição "Pixo/Grafite: Realidades Paralelas", que será apresentada até dia 19 de maio de 2018. Preliminarmente, acolhe e respeita todas as manifestações a favor e contra o projeto, no âmbito da civilidade. Nos próximos dias, o Instituto discute internamente quais as ações a serem tomadas diante da repercussão do projeto. A exposição coloca dois artistas de 'Street Art' em diálogo, os quais representam diferentemente a arte urbana."