Vítima de abandono, desleixo e degradação, o Viaduto Otávio Rocha entraria em uma nova fase no próximo sábado (4). As famosas arcadas não serviriam mais de teto para moradores de rua – serviriam de cobertura para banquinhas de artesanato e foodtrucks, em uma tentativa de transformar a histórica construção em ponto de encontro cultural e gastronômico.
Mas o prefeito Nelson Marchezan mandou suspender tudo. Contrariada, a idealizadora do projeto, Maria de Fátima Záchia Paludo, pediu exoneração do cargo de secretária de Desenvolvimento Social na segunda-feira.
Fazia quase duas semanas que assistentes e educadores sociais da prefeitura conversavam com os sem-teto do viaduto. A meta era que todos deixassem o local até, no máximo, esta quinta-feira (2).
– A gente perguntava o que eles queriam para sair de lá. Uma vaga em albergue? Um tratamento? Uma internação? Uma passagem para reencontrar familiares em outra cidade? Aos que recusavam todas as opções, aí, sim, dizíamos que precisavam se instalar em outro lugar – conta um servidor próximo a Maria de Fátima, que tem recusado pedidos de entrevista.
Entre quinta e sexta-feira, o viaduto passaria por uma limpeza e teria suas pichações removidas, para receber a feira de artesanato no sábado. Além da Secretaria de Desenvolvimento Social, as pastas de Cultura, Segurança, Serviços Urbanos e Desenvolvimento Econômico, junto com a Guarda Municipal e a EPTC, estavam envolvidas no projeto. Houve uma frustração geral quando Marchezan vetou a iniciativa.
O prefeito queria um plano mais abrangente, queria que Maria de Fátima lhe apresentasse uma proposta de assistência social para toda a cidade, e não apenas para os sem-teto do viaduto. Ela, de fato, não havia comunicado Marchezan sobre sua ideia. Entendia, conforme disse a assessores, que "ou a pessoa é secretária e tem um pingo de autonomia, ou não é". Sua convicção era de que focar em pontos estratégicos, em um primeiro momento, seria fundamental.
Mas, pelo menos por enquanto, a mais arrojada e imponente obra viária da história de Porto Alegre seguirá como está: abandonada.