Confesso que já estava estranhando: Luiz Carlos Prestes, maior expoente do comunismo brasileiro, vai ganhar daqui a duas semanas um vultoso memorial na Avenida Beira-Rio e, por enquanto, ninguém tinha chiado.
Pois adivinhem? Vai ter briga, como sempre.
A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Municipal emitiu na terça-feira parecer favorável a um projeto do vereador Wambert Di Lorenzo (Pros) que extingue o memorial. Segundo o parlamentar, Prestes era "um facínora", "um homicida" e "um traidor da pátria brasileira".
Wambert, agora, deve pedir regime de urgência na tramitação da proposta: ou seja, é bem provável que os vereadores votem o projeto antes da inauguração do memorial, prevista para o dia 28. A organização do evento já convidou líderes políticos de expressão nacional, atrações musicais e autoridades do Estado.
No lugar da homenagem ao militar comunista, Wambert propõe que o prédio – projetado por Oscar Niemeyer com o único intuito de homenagear Prestes – receba o Museu da História e da Cultura do Povo Negro. Não foi o vereador quem teve a ideia desse museu. Ele foi criado por uma lei aprovada em 2010, de autoria do também vereador Tarciso Flecha Negra (PSD). Embora o museu continue sem sede até hoje, o próprio Tarciso já disse à coluna ser contra o projeto de Wambert.
– Aquele prédio não tem relação nenhuma com a gente. Queremos um local que remeta à nossa história – afirmou Tarciso, revelando sua preferência pelo Largo Zumbi dos Palmares, na Cidade Baixa.
No fim das contas, a polêmica do memorial é a mesma da Avenida Castelo Branco – que virou da Legalidade e que talvez vire Castelo Branco de novo. Enquanto esquerda e direita travam esse cabo de guerra infantil, a cidade não avança nada.