Quando encontrei a garota de programa Daiana de Oliveira, na Avenida Farrapos, minha ideia era expor aos leitores um depoimento de como é a vida de uma mulher de 33 anos que optou por ganhar dinheiro fazendo sexo. Ela já fez outras coisas, já trabalhou em lojas e restaurantes, mas acha que "o dinheiro compensa" o incômodo de se deitar com até sete homens em uma tarde.
– Eu ganho bem, não posso negar.
No mesmo dia, ao avistar um grupo de garis na Avenida Loureiro da Silva, entrevistei Stephanie do Nascimento, que, por coincidência, já havia sido garota de programa. Só que ela preferiu abandonar a antiga profissão para varrer as ruas.
– Eu ganhava bem melhor, mas a energia era horrível, tinha gente do pior tipo perto de mim.
Os dois depoimentos estão na imagem acima. Todo dia, na versão impressa de Zero Hora, a seção "A cara da rua" expõe frases de personagens da Capital. Desde que assumi uma coluna diária sobre Porto Alegre, venho tentando dar voz a pessoas que a cidade não vê – ou até vê, mas sem grande interesse em compreendê-las.
Daiana, por exemplo, diz que sua vida se resume àquela região, no entorno da Farrapos. Stephanie deixou de se prostituir para assumir outra profissão que a sociedade valoriza pouco. Nas ruas da cidade, é só gente comum ganhando a vida.