O desapontamento com o desfecho da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP29), em Baku, no Azerbaijão, amplia a responsabilidade da próxima cúpula, a ser realizada em 2025, em Belém, no Pará. Os grandes desafios serão estabelecer metas mais ambiciosas para o corte de emissões de gases poluentes e elevar substancialmente o financiamento climático para os países em desenvolvimento aplicarem em ações de prevenção e mitigação dos efeitos do aquecimento global. Caberá à diplomacia brasileira empenhar-se para alinhavar com antecedência com os demais governos acordos que levem a esses objetivos mais ousados.
Tarefa é restabelecer a confiança no multilateralismo como instrumento para enfrentar um desafio existencial
A COP29 viveu um impasse e, ao fim, foi possível um acordo que prevê US$ 300 bilhões anuais de desembolsos de nações ricas até 2035. Chegou a ser especulado um valor inferior, de US$ 250 bilhões. Os recursos teriam como origem fontes como governos, organizações privadas e multilaterais. Ocorre, no entanto, que persiste a falta de garantias de que os países ricos farão, de fato, o desembolso. Ademais, há um consenso de que o montante necessário a cada ano para um enfrentamento efetivo às mudanças climáticas seria da ordem de US$ 1,3 trilhão. Seria um valor que, aplicado, poderia garantir a transição energética e medidas de adaptação que tornassem possível limitar a elevação da temperatura do planeta a 1,5ºC, conforme acertado pelo Acordo de Paris.
Os obstáculos para a costura de um consenso e para se chegar a esta vultosa soma já eram grandes e ficaram ainda maiores. Em primeiro lugar, pela crise do multilateralismo. Caiu a capacidade das nações, por meio dos organismos internacionais, de conciliar diferentes interesses e visões. Se junta a essa dificuldade geopolítica a chegada de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. O republicano, conhecido por negar a interferência humana nas mudanças climática, em seu primeiro mandato já tirou os EUA do Acordo de Paris, medida revertida por Joe Biden. Agora, de volta à Casa Branca, repetirá o ato. Fica mais impensável ainda imaginar que, neste momento, o país mais rico do mundo possa colaborar financeiramente.
As adversidades não podem fazer com que os esforços pelo clima esmoreçam. Os eventos extremos, como secas de proporções inéditas e enchentes violentas, açoitam os quatro cantos mundo. É ilustrativo o próprio caso brasileiro em 2024, com uma escassez de chuva histórica em parte do país e a maior cheia já registrada no Rio Grande do Sul, com força destruidora incomum. O ano em curso também se encaminha para superar 2023 e ser o mais quente já registrado, informou neste mês a Organização Meteorológica Mundial (OMM).
É preciso crer que será possível um diálogo produtivo e responsável, que encaminhe saídas para evitar os cenários desenhados pelos cientistas de um planeta que se torna aceleradamente mais hostil à humanidade, até em uma velocidade superior ao que se projetava há não muito. A COP30, em Belém, na Amazônia brasileira, região símbolo ao mesmo tempo da exuberância da natureza e da mancha da destruição, tem a tarefa de ser capaz de restabelecer a confiança no multilateralismo como principal instrumento para as nações enfrentarem um desafio existencial.