Não é pouco o que está ocorrendo na Argentina. E há possibilidades de surpresas em 2017. O fato é que a Justiça está no encalço dos governantes latino-americanos, e a bola da vez é a ex-presidente argentina Cristina Kirchner. O cerco se fecha em torno da ex-presidente, que vive o chamado "inferno astral".
Cristina foi denunciada por associação ilícita e fraude ao outorgar obras de infraestrutura por US$ 2,20 bilhões a um empresário, em seu já segundo processo neste ano de 2016 que não tem sido fácil para ela.
"O juiz Julián Ercolini processou a ex-presidente por associação ilícita e administração fraudulenta. Ordenou um congelamento de bens de 10 bilhões de pesos (o equivalente a US$ 630 milhões). Investiga-se o direcionamento de obras públicas viárias ao grupo Austral", noticiou o site CIJ, do poder judiciário.
Em seu última declaração apresentada em maio, a ex-chefe de Estado figura com um patrimônio de quase US$ 5 milhões em espécie e bens imóveis, que incluem uma empresa hoteleira da família.
O caso de Cristina se soma ao de outros líderes de centro-esquerda da região, como Luiz Inácio Lula da Silva, denunciado por supostos casos de corrupção ou administração irregular.
Cristina reagiu no Twitter: "Associação ilícita foi a figura penal criada por governos de fato utilizada por todas as ditaduras para perseguir dirigentes opositores".
A ex-mandatária argentina havia apresentado recentemente um documento a Ercolini para pedir a anulação do processo e ressaltar que se trata de "uma manobra formidável de perseguição política" e "um enorme disparate".
Em 11 de novembro, uma corte de apelações havia confirmado a acusação a Cristina em outro caso pelo suposto prejuízo ao Estado com operações cambiais do Banco Central.
O tribunal convalidou nessa causa um embargo no valor de US$ 1 milhão.
Cristina (2007-2015) é acusada de ter outorgado obras de infraestrutura em favor do empresário Lázaro Báez na província (Estado) de Santa Cruz (Patagônia, sul do país). Ercolini também processou Báez e o ex-ministro de Planejamento Julio de Vido. Báez está detido desde abril.
– Não sou amiga, nem sócia comercial de Báez – disse Cristina em 31 de outubro, ao sair do tribunal. O processo na Argentina implica que o magistrado encontrou provas para o indiciamento.
A ação seguirá seu curso até a definição de uma data para o julgamento em um tribunal federal.
Cristina afirma que o governo de Mauricio Macri influencia um grupo de juízes para acusá-la e desviar a atenção da sociedade dos graves problemas sociais e econômicos, entre eles uma recessão com queda de 2,4% do PIB ao longo deste ano, segundo o instituto oficial Indec.
De fato, Macri tem motivos para acobertar os resultados do seu primeiro ano no governo. E, claro, adoraria ver a adversária e desafeta em apuros.
No caso conhecido como "dólar a futuro", a justiça considera que a operação beneficiou investidores. Definiram vendas de divisas na razão de 10 pesos por dólar em novembro de 2015, quando o governo tentava reduzir as expectativas de desvalorização. Mas em dezembro, com a posse de Macri, a taxa de câmbio foi fixada em 14 pesos por dólar, e os especuladores ganharam fortunas. Cristina afirma que, se há delito, este foi cometido pelos desvalorizadores.
No caso de concessão de licitações em Santa Cruz, Ercolini disse que a empresa de Báez ganhou contratos de US$ 2,2 bilhões durante o governo de Cristina. O valor implica que a Austral venceu 78,4% das disputas para realizar obras.
A associação ilícita da qual suspeita Ercolini também teria contado com a participação do ex-vice-ministro de Obras Públicas José López, processado igualmente na terça-feira. López foi detido em junho quando tentava esconder uma bolsa com US$ 9 milhões em um convento da periferia de Buenos Aires.