Claramente, é a derradeira cartada para tentar resolver uma situação que tem a aparência de ser um nó cego - e não há dúvida de que a palavra é o caminho. Seis países sul-americanos - Argentina, Brasil, Colômbia, Chile, Paraguai e Uruguai - manifestaram esperança de que o diálogo entre o governo de Nicolás Maduro e a oposição venezuelana dê frutos em "um prazo razoável".
Depois do início das discussões, os seis países "expressam sua esperança de que esse diálogo alcance resultados concretos em um prazo razoável" para acabar com a complicada situação política e social na Venezuela, diz comunicado conjunto divulgado pela chancelaria chilena, em Santiago.
Além disso, reiteram apoio à participação de representantes do Vaticano e de ex-presidentes enviados pela União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e "exortam a que estimulem as partes a concretizar avanços e gestos de aproximação o mais rápido possível e a evitar todo ato de violência e ameaças ao processo".
É uma esperança que procura incentivar o processo. Este colunista já manifestou seu ceticismo, uma vez que Maduro terá de aceitar ou a realização do referendo revogatório em 2016 ou o encurtamento do mandato. Sinceramente, não consigo imaginar o presidente venezuelano tendo tal desprendimento.
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De qualquer forma, há sinais de desarmamento nos ânimos.
O parlamento da Venezuela, de maioria opositora, suspendeu o julgamento sobre a responsabilidade política de Maduro na crise do país, assim como uma marcha em direção ao palácio presidencial, diante do início de um diálogo.
- Aprovado, concorda-se com adiar - anunciou o chefe da Assembleia Nacional, Henry Ramos Allup, ao explicar que não se trata de uma "capitulação" da oposição, mas da busca por uma solução para a crise.
Após a sessão legislativa, Allup também anunciou a suspensão de uma passeata convocada pela oposição para amanhã (quinta-feira), que teria sua concentração final no Palácio Presidencial de Miraflores. Esse recuo foi decidido a pedido do Vaticano, que promove o início do diálogo.
- Nos pediram que os eventos de marcha para quinta-feira sejam adiados. É sensato acatar - afirmou o parlamentar oposicionista.
Em seu programa semanal de televisão, Maduro declarou "celebrar como resultado da instalação da mesa de diálogo que a oposição tenha adotado decisões sensatas". " Saúdo isso", disse ele na TV.
- Vi as declarações de Ramos Allup, muito boas declarações, o cumprimento por isto - disse o presidente venezuelano. - Oxalá seja um passo para que muito em breve a Assembleia Nacional reconheça o Tribunal Supremo de Justiça, acate suas sentenças e entre outra vez nos trilhos da legalidade e da constitucionalidade. Esse é o caminho. Se me convidarem para o debate, vou.
Pois é. Aí é que eu acho complicado. A oposição vê a suprema corte venezuelana como um "escritório de advocacia do chavismo". Nas últimas semanas, além de suspender a coleta de assinaturas para o referendo revogatório, o Judiciário adiou eleições regionais (o que faz com que o chavismo manterinha artificialmente a maioria dos governadores) e até recebeu, direto do Executivo, a proposta orçamentária - que, ora, deveria ter iodo para o Legislativo...
Veja bem: o líder da bancada opositora, Julio Borges, que apresentou a proposta de adiamento da Mesa de la Unidade Democrática (MUD), afirmou que eles esperam que o diálogo resulte no adiantamento das eleições presidenciais.
Conforme Borges, na instalação da mesa de diálogo, no domingo passado, a oposição apresentou também a proposta de que se liberte de opositores presos (sim, há a questão dos presos políticos..), de que o parlamento recupere "na plenitude" o seu poder e de nomeação de novas autoridades eleitorais, acusadas de servir ao governo e que suspenderam o referendo revogatório.
Acrescentou que a MUD propôs ao Vaticano que "se estabeleçam urgentemente as medidas" para solucionar o desabastecimento de alimentos e remédios.
- Estamos dando ao Vaticano um voto de confiança, não acreditamos no governo. Todo o nosso esforço é para que o povo possa votar - disse.
De acordo com Allup, a libertação de todos os opositores presos, exceto Leopoldo López, é negociada com base no diálogo com o governo.
- No caso de Leopoldo López ele sequer pediu por sua libertação. Leopoldo não quer medidas substitutivas, quer a liberdade plena, porque ele é inocente - diz o presidente do parlamento venezuelano.
Allup assinalou que, entre os detidos que poderão ser soltos em breve, estão o prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, o ex-dirigente estudantil Yon Goichoechea e os deputados Rosmit Mantilla, Enzo Prieto e Gilberto Sojo.
A MUD, que se dividiu ante o diálogo, visto que 16 dos seus partidos consideraram que não havia as condições para que este acontecesse, tomou a decisão unânime de adiar o julgamento.
- Fazemos votos de que este adiamento não seja eterno. Respeitamos e aceitamos a opinião da maioria dos nossos companheiros -afirmou o deputado Freddy Guevara, do partido Voluntade Popular (fundado pelo encarcerado Leopoldo López), que escolheu ficar à margem do diálogo.
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A Justiça, acusada pela oposição de estar à mercê do governo, já declarou o parlamento em "desacato" e que suas decisões serão consideradas nulas.
Ou seja, além do caos socioeconômico, a Venezuela vive uma clara ruptura institucional.
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Segundo pesquisa Venebarómetro, Maduro é rejeitado por
76,4%
da população, e
67,8%
dos venezuelanos querem sua saída do poder.