Hoje é dia de voltar ao trabalho e à coluna após uns dias de molho. Este colunista teve uma otite severa, com perfuração do tímpano. A primeira noite foi de insônia absoluta. Depois, os medicamentos não tinham efeito. Acabei tomando um antibiótico pesadíssimo, que dá náusea e dores. Enfim.
Com o ouvido esquerdo ainda totalmente fora de combate (nada ouço vindo daquele lado), ponho aqui algumas reflexões - e, como esta coluna é sobre América Latina, deixarei a última para a Venezuela. Ó:
1) A sensação (ainda presente) é de que o som vindo da esquerda se origina do outro lado, da direita. Tudo entra pelo ouvido direito. É um carnaval de sons, sem qualquer nexo. E, na esquerda, o silêncio é total. Será que tem algum símbolo em relação aos rumos que a política vai tomando no mundo inteiro?!
2) Nada contra antibióticos, mas o sofrimento às vezes se dá mais pela cura do que pela doença em si. Os efeitos vão da tontura à dor abdominal. Tudo muito intenso e sofrido. Mas ok, a perspectiva de cura anestesia e amaina tudo.
Leia mais colunas de Léo Gerchmann
Reportagem especial sobre a Venezuela 1
Reportagem especial sobre a Venezuela 2
Reportagem especial sobre a Venezuela 3
Em vídeo, o que vimos na Venezuela
3) A Venezuela, então... nem todos os remédios são encontráveis com facilidade aqui em Porto Alegre. Mas acabam sendo localizados em uma das nossas tantas farmácias. A angústia é muito forte numa hora dessas. Dor intensa, insônia, tontura e a busca pelo medicamento receitado - às vezes, coisa de gincana. Eu nessa função toda e pensando na Venezuela, país em que estive quatro vezes nos últimos seis anos para contar a realidade em longas reportagens. Puxa, uma otite não é o fim do mundo. Pode ocorrer com qualquer um, a qualquer momento. No meu caso, foi porrada. A bactéria parecia impermeável. Mas, em maior ou menor grau, é comum, principalmente com crianças. Veja bem: não estamos no paraíso, sabemos disso. Mas se eu tivesse vivido tudo isso em Caracas, com seu desabastecimento de 81% dos medicamentos e inflação anual estimada em 720%? Costumamos olhar os casos mais extremos, de doenças graves, e está correto pensar assim. Mas e as tropelias mais cotidianas? Puxa, tenho queridos amigos na Venezuela. O sofrimento deles está também nos momentos mais prosaicos da vida, tais como a fila de sete horar para comprar um quilo de farinha ou um remédio qualquer. A dor me fez pensar muito neles.