Exatos 30 anos depois que o italiano Hugo Pratt, criador do memorável Corto Maltese, foi acolhido com uma exposição no prestigioso Grand Palais, a história em quadrinhos é novamente celebrada nos nobres espaços do museu parisiense. Desta vez, o homenageado é o belga Hergé (1907-1983), genitor em 1929 do intrépido repórter aventureiro Tintim e de seu inseparável cão Milu, além do Capitão Haddock, da cantora de ópera Bianca Castafiore, do Professor Girassol e dos detetives Dupond e Dupont, protagonistas de um total de 24 álbuns de sucesso planetário.
A mostra privilegia o criador à criatura. A ideia foi a de revelar o percurso de Hergé – Georges Remi de nascimento –, artista frustrado que se projetava numa carreira de pintor e acabou catapultado à fama como autor de HQ. No início da década de 1960, em pouco mais de dois anos ele pintou três dezenas de quadros de inspiração abstrata, marcados pela influência de nomes como Miró ou Paul Klee, mas nunca conseguiu se impor no meio da arte. Ironias da vida, uma de suas telas, de 1963, foi vendida em leilão, em 2011, por 35 mil euros; já em 2015, um comprador desembolsou 1,6 milhão de euros por uma prancha dupla original do álbum O cetro de Ottokar, das aventuras de Tintim.
A exposição, simplesmente intitulada Hergé, debuta com alguns dos quadros de sua autoria e também com obras de sua coleção de arte privada, assinadas por Alechinsky, Liechtenstein, Dubuffet ou Andy Warhol (que pintou três retratos do próprio Hergé). Também é revelado um aspecto menos conhecido do autor: seus trabalhos gráficos publicitários, na forma de cartazes e logotipos. O universo de Tintim, obviamente, é explorado em toda a sua criação. Hergé defendia a HQ como uma arte de expressão completa, a exemplo do cinema e da literatura. Já a relação com seu personagem foi freudiana. Seu colaborador Jacques Martin contou que, certa vez, Hergé entrou no estúdio de desenho e desabafou: "Tintim, eu o odeio! Você não tem ideia até que ponto".
Toda a polêmica sobre os aspectos racista, antissemita e colonialista de Hergé e de seu personagem (como a controversa representação dos negros no álbum Tintim no Congo), ou mesmo sua passagem pela redação do jornal Le Soir durante a II Guerra Mundial, quando era mantido por colaboracionistas belgas, ficou ausente da exposição, sob o argumento de que a intenção não era fazer um "processo político" do autor, nas palavras do curador Jérôme Neutres. Para quem desejar se aprofundar nestas nebulosas passagens de sua trajetória, no rastro da exposição, que estará aberta a visitação até 15 de janeiro de 2017, estão sendo relançadas algumas das principais biografias de Hergé já publicadas.
SUBTERRÂNEOS DE JULHO
Paris vai começar as obras para a reabertura de um antigo local de visitação turística, fechado há cerca de 30 anos. Trata-se dos subterrâneos da imponente Coluna de Julho, de 50 metros de altura, instalada desde 1840 no centro da célebre Praça da Bastilha. No primeiro semestre de 2018, após um longo trabalho de restauração – a um custo de 3 milhões de euros –, as caves funerárias
onde estão enterrados 700 revolucionários das rebeliões de 1830 e 1848 serão novamente acessíveis ao público. Por medida de segurança, já que há uma única entrada para as galerias e os subsolos, apenas 19 pessoas poderão visitar por vez, em horário previamente agendado.
CHARMOSA MALOKA
Muitos já tentaram a aventura de instalar uma churrascaria brasileira em Paris, mas, até hoje, sem sucesso. Inversamente à crescente expansão dos rodízios brasileiros nos Estados Unidos, recebidos com voraz apetite pela culinária americana, a cultura gastronômica do francês não parece compartilhar da abundância dos espetos corridos. O chef carioca Raphaël Rego vai ousar a empreitada, adaptada a sua maneira, e abrirá no início de novembro seu segundo restaurante parisiense, Maloka Fogo e Brasa (1, Rua Augereau, 75007). No menu, carnes preparadas "como churrasco", em uma "churrasqueira especialmente importada do Brasil". Para o fogo, irão "peças inteiras" de carne de boi, ovelha ou porco, que "poderão ser partilhadas" pelos comensais. Para atrair a clientela avessa ao churrasco, haverá também peixes na brasa. Resta saber se a nova mesa entrará para a longa lista das tentativas fracassadas ou se figurará como o primeiro exemplo bem-sucedido.