A Sociedade Intermaricana de Imprensa (SIP, na sigla em espanhol) exigiu, na forma de nota, a libertação do jornalista venezuelano Braulio Jatar, diretor do portar Reporte Confidencial. Jatar, 58 anos, foi detido em Isla Margarita, no sábado, pelo Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin).
A acusação é de terem encontrado valores em espécie no seu carro – algo como US$ 27 mil. O dinheiro, de acordo com o governo, serviria para desestabilizá-lo, financiando a oposição. A família, os amigos e os conhecidos asseguram: é retaliação pelo seu trabalho profissional. Ora, já há mais de cem presos políticos na Venezuela, acusados dos mais diversos disparates.
Houve uma série de detenções neste momento em que novas prisões ocorrem em meio a protestos contra o presidente Nicolás Maduro.
O presidente da SIP, Pierre Manigault, pede às autoridades venezuelanas "garanteas para a segurança física" do jornalista.
A SIP já vem acusando o governo venezuelano de diversas medidas que atentam contra os direitos humanos em geral e a liberdade de expressão em particular.
Outro pedido da SIP é de que libertem Alejandro Puglia, jornalista detido pelo Sebin em 1 desetembro por usar um drone para fotografar o protesto que reuniu 1 milhão de pessoas - o governo assegura que foram apenas 40 mil e proibiu o uso de drones e aviões que pudessem revelar o tamanho da manifestação.
Puglia foi preso sob a acusação de "favorecimento bélico" (sic)
Animada pela marcha que tomou as ruas de Caracas na semana passada, a oposição venezuelana retomará os protestos, nesta quarta-feira, para reivindicar um referendo revogatório contra o presidente Nicolás Maduro.
Desta vez, a convocação vai além de Caracas, incluindo outras cidades. Contramarchas chavistas também são esperadas em todo o país.
O ponto final da mobilização são as sedes do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), em meio a um clima de tensão após várias detenções. A oposição denuncia a "perseguição" e a "repressão" sofridas por parte do governo. Este alega, por sua vez, que está tentando conter a violência e um golpe de Estado.
Diante do protesto, o CNE decidiu fechar seus 24 escritórios regionais na quarta-feira.
"Em vista da virulência da linguagem que utilizam, nos vemos na obrigação de suspender as atividades", declarou a ministra Socorro Hernández.
"O protagonismo será das regiões, porque Caracas já teve o seu. Procuramos acelerar a solução política e eleitoral para essa crise", disse o secretário-executivo da coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD), Jesús Torrealba, referindo-se à massa gigantesca que foi às ruas na última semana.
A oposição vê o referendo como única saída para a crise econômica e espera que a insatisfação da população ajude a lotar as ruas para pressionar o CNE a fazer a consulta ainda este ano.
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Buscando ganhar tempo, o governo acelerou planos de abastecimento de produtos básicos com o apoio dos militares e mantém, no CNE e no Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), uma série de demandas contra a oposição, incluindo a possibilidade de suspender a imunidade dos deputados. A Casa é de maioria opositora.
"O referendo revogatório não tem a menor possibilidade de ser este ano (...) Se acontecer, seria para março", disse o nº 2 do chavismo, Diosdado Cabello.
A corrida é feroz. Está em jogo uma mudança de modelo, após 18 anos de governo socialista. Se a consulta for realizada antes de 10 de janeiro de 2017 e Maduro perder, haverá nova eleição à Presidência. Se acontecer depois e o presidente tiver seu mandato revogado, será substituído por seu vice.
Tendo o referendo como pano de fundo, a Venezuela está metida em um conflito de poderes desde que a MUD assumiu o controle do Parlamento em janeiro.
O TSJ invalidou 20 decisões tomadas pela maioria opositora e, esta semana, declarou nulas futuras decisões por considerar a Assembleia em desacato.
"Querem anular um ao outro. Todos os poderes estão em disputa e, infelizmente, vale tudo na guerra", opinou a socióloga Maryclen Stelling.
Em 1º de setembro, Caracas foi palco de uma grande passeata, a qual teria reunido 1,1 milhão de pessoas - segundo a MUD -, ou 30 mil - de acordo com o governo. Um protesto simbólico foi convocado para acontecer na capital por volta das 12h locais (13h, horário de Brasília), parando por 10 minutos qualquer atividade e circulação de veículos.
"O chavismo deve estar na rua acompanhando esta luta do povo. Eles vão seguir com seu plano", disse Cabello em um ato público, ao advertir que a oposição planeja uma escalada de protestos até chegar a uma "greve nacional".
"O desafio da oposição é se manter ativa e pacificamente nas ruas, pressionando o referendo", comentou o analista político Luis Vicente León.
O dirigente chavista Elías Jaua garantiu que a "mobilização popular" é "o melhor antídoto contra a violência, contra os golpes de Estado", motivo pelo qual convocou todos os chavistas a se mobilizar.
Cerca de 60 pessoas foram detidas na última semana na manifestação de 1º de setembro e em outra realizada em Villa Rosa. A maioria dos ativistas já foi solta.
Conforme o diretor do Sebin, Gustavo González López, foi detido um grupo de pessoas "que estava organizando atos de violência" para este 7 de setembro.