Talvez exista apenas uma coisa que os ingleses idolatrem mais do que a família real, ou em igual medida: são os seus jardins. E talvez, assim como a família real, seja uma paixão difícil de entender para um não inglês ou para alguém que não viva muito a cultura local.
As praças cercadas e seus incríveis jardins são uma das características que moldam Londres. Definiram a estrutura da cidade ainda nas eras georgiana e vitoriana.
Muitas dessas praças são cercadas, mas podem ser frequentadas pelo público. A outras tantas, apenas os moradores da redondeza, que pagam uma espécie de condomínio, têm acesso – o que gera, claro, uma série de críticas aos moradores dos bairros mais abastados, onde isso é mais comum. Em defesa das praças privadas, o argumento é de que a cidade mantém 400 áreas verdes, nem todas fechadas ao público, graças ao Ato das Praças de Londres de 1931, que impediu que essas áreas fossem destruídas e virassem empreendimentos imobiliários.
Sem entrar na polêmica, o fato é que esses endereços são jardins secretos com regras impostas por seus moradores. Em algumas, não se pode jogar bola; em outras, pode-se levar convidados, piqueniques são permitidos. Há hortas em pleno centro londrino. Em comum, o capricho e a surpresa em cada espiada entre os arbustos.
Para matar a curiosidade de quem não tem o privilegiado acesso, uma vez por ano algumas delas são abertas ao público no evento Open Garden Square Weekend. Você pode comprar ingresso e escolher uma área da cidade para explorar. Em Notting Hill, por exemplo, pode-se reproduzir a sequência de encerramento do filme com Julia Roberts e Hugh Grant deitados num banco no Rosmead Gardens.
Jardinagem é um tópico importante nas escolas. Ingleses sabem nome e sobrenome de plantas, orgulham-se de conhecer as melhores estações para plantar e não veem graça nenhuma em terceirizar o serviço – põem a mão na terra.
Pois, nesta primavera/verão, as feiras e os eventos se sucedem, e alguns precisam ter ingressos comprados com meses de antecedência, como nos shows mais concorridos. Depois da Chelsea Flower Show, no centro de Londres, em maio último, a próxima é a de Hampton Court, em 5 de julho, no palácio onde Henrique VIII viveu com suas muitas esposas.
Glastonbury
O festival de música de Glastonbury – que tem fama de ser o segundo maior do mundo a céu aberto, mas é certamente o campeão em lama, pela instabilidade do tempo na Inglaterra –, tem encerramento previsto para o domingo. A lista de atrações inclui Adele, Coldplay, Muse e Beck, mas há duas áreas que vêm chamando mais atenção.
Lama só para meninas
A área apelidada de Sisterhood, ou “irmandade”, foi criada como um clube da Luluzinha, exclusivo para mulheres, mas na realidade é bem mais do que isso. Segundo os organizadores, é um local do festival reservado para todos que “se identifiquem como mulheres” – transexuais também são bem-vindos. O staff, seguranças e artistas também seguem o mesmo critério. Para quem acha o setor uma forma a mais de segregação, a organização rebateu as críticas dizendo que “lugares exclusivos para mulheres ainda são necessários em um mundo que é comandado e definido para beneficiar principalmente homens”.
Lama chique
Pense em mordomias e instalações de superluxo, só que em forma de tendas. No alto do morro, com uma vista linda do festival, o Campo Kerala é um acampamento de sonho que custa aproximadamente R$ 50 mil por cinco noites. Mordomias de hotel cinco estrelas, serviços de quarto, camas confortáveis, banheiros de verdade e sem o jeitão de acampamento de gurizada. Nada a ver com o clima de camaradagem e comunidade original do festival e que é a essência de Glastonbury.