A chapa está ficando cada vez mais quente para o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. Enquanto a oposição venezuelana insiste com as autoridades eleitorais para acelerar o referendo revogatório do mandato presidencial, a pressão internacional aumenta rapidamente, em especial por parte da Organização dos Estados Americanos (OEA).
– Logo serão todos os países apoiando o povo venezuelano, que quer o revogatório – disse o líder opositor Henrique Capriles, ao se referir à decisão do secretário-geral da OEA, Luis Almagro, de convocar sessão urgente para debater o caso da Venezuela e invocar a carta democrática.
Por outro lado, aos gritos de "Almagro, Almagro, vá para o caralho!", jovens socialistas protestaram ontem contra a OEA, respondendo ao chamado de se mobilizarem contra "o intervencionismo", feito por Maduro.
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– Almagro que não se meta nos problemas da Venezuela, ocupe-se de sua vida que aqui o povo venezuelano resolve sua situação – disse, para a agência de notícias France Presse, Emilio Segovia, um dos manifestantes.
Maduro sustenta que a ação da OEA, solicitada pela oposição venezuelana, busca abrir caminhos para uma intervenção dos Estados Unidos, anunciando que iria acionar judicialmente a direção do parlamento, nesta quarta-feira, por "usurpação de funções" e "traição à pátria".
Para a oposição, o tempo é curto. Se o referendo for feito antes de 2017 – quando forem cumpridos os quatro anos de mandato – e Maduro perder, deverão ser convocadas novas eleições. Se ocorrer no próximo ano, seria substituído pelo vice-presidente, nomeado pelo governante a qualquer momento. Cogita-se a possibilidade de ele indicar a própria mulher, a procuradora-geral Cilia Flores (leia aqui mais sobre isso).
Porém, o processo é longo e desgastante. Na quinta-feira será concluída a revisão das 1,8 milhão assinaturas entregues pela oposição há um mês para ativar o referendo. Após isso, deverão ser validadas com a impressão digital, além de recolherem outras 4 milhões de rubricas para convocar o referendo.
De acordo com a empresa de pesquisa Datanálisis, 70% dos venezuelanos apoiam uma mudança de governo. Para revogar o mandato de Maduro, necessita-se de mais de 7,5 milhões de votos, o correspondente ao número de votos com os quais se elegeu em abril de 2013.
Invocando a carta democrática, Almagro falou da crise econômica, social, política e institucional que a Venezuela vive. Chile, Argentina, Colômbia e Uruguai manifestaram apoio ao referendo, para ajudar a superar a situação.
A pressão internacional e da oposição se soma ao mal-estar popular diante do agravamento da escassez de alimentos e remédios (que já chegaria a 80%), e do alto custo de vida, pois o país peroleiro tem a inflação mais alta do mundo (180,9% em 2015 e projetada pelo FMI para 700% em 2016).
– O mundo inteiro está atento à Venezuela, pois aqui há uma crise que o presidente não pode negar – disse o presidente do parlamentop, o oposicionista Henry Ramos Allup.
Mas o especialistas, ouvidos pela AFP, mostram-se cautelosos.
– A OEA não vai produzir soluções mágicas para a Venezuela – avaliou o advogado constitucionalista Carlos Ayala Corao, que não descarta a possibilidade de vários países se lançarem contra Almagro.
– A implementação da carta não é solução imediata a todos os nossos males. Após um caminho mais ou menos longo, a pior situação para a Venezuela seria sua suspensão da OEA – disse o constitucionalista José Ignacio Hernández.
Almagro pediu que o organismo discuta o tema em sessão extraordinária entre os dias 10 e 20 de junho, ao considerar que existe na Venezuela uma "alteração da ordem constitucional" que afeta gravemente "a ordem democrática".
Diante do agravamento da crise política e econômica na Venezuela, uma mediação internacional tenta abrir um diálogo. Na terça-feira o chefe da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), o ex-presidente colombiano Ernesto Samper, disse que na próxima semana haverá uma "nova reunião" – após uma já ocorrida na República Dominicana, na semana passada – ele não descarta que essa conversa seja diretamente entre as partes.