Enquanto no Brasil a polêmica envolve o ministério exclusivamente masculino do presidente interino Michel Temer, na França, onde o governo respeita a paridade ministerial homem-mulher, emergiu uma vaga de protestos contra o silêncio e a impunidade ao assédio sexual na classe política. O estopim foram as recentes denúncias de oito mulheres – entre as quais quatro eleitas –, que se disseram vítimas de assédio sexual por parte do deputado ecologista Denis Baupin, que se viu obrigado a renunciar a seu posto de vice-presidente da Assembleia Nacional. O Ministério Público francês abriu um inquérito sobre o caso. E no rastro surgiram outros relatos acusando políticos franceses de atitudes abusivas em relação a mulheres.
"Chega. A impunidade acabou. Não nos calaremos mais. Denunciaremos sistematicamente todos os comentários sexistas, os gestos inapropriados, os comportamentos impróprios. Encorajamos todas as vítimas de assédio sexual e de agressões sexuais a falarem e a apresentarem queixa", declararam
17 ex-ministras, de todas as colorações políticas, em um manifesto publicado no Journal du Dimanche. As ex-ministras não querem apenas o fim da omertà, elas defendem ainda a extensão do prazo de prescrição em relação a agressões sexuais, atualmente de três anos, a possibilidade de associações poderem apresentar denúncia no lugar das vítimas e que o Ministério Público receba instruções para "processar sistematicamente em caso de assédio". "Não cabe às mulheres se adaptarem, são os comportamentos de certos homens que devem mudar", escreveram as signatárias do manifesto.
O parlamento francês é considerado como um dos menos paritários da Europa, com 26% de mulheres eleitas, o 15° no ranking do continente e 60° mundial (o Brasil ocupa a 156ª posição, com menos de 10% de parlamentares mulheres no Congresso). Em 2012, numa sessão da Assembleia Nacional, a aparição da então ministra Cécile Duflot trajando um vestido florido provocou assobios e gracejos de parlamentares, uma reação que deflagrou um acalorado debate no país. Na hora, diante da excitação causada pela vestimenta ministerial, o presidente da Casa, Claude Bartolone, procurou acalmar o ambiente: "Mesdames e messieurs deputados, mas sobretudo os messieurs, francamente…".
Sessão da tarde
Em tempos de Festival de Cinema de Cannes, vale lembrar a filmografia recente da sala de cinema instalada no Palácio do Eliseu, a sede do governo francês. Desde que assumiu a presidência, em 2012, François Hollande – que atualmente namora a atriz Julie Gayet – assistiu a 28 filmes, entre os quais o documentário Na Estrada com Sócrates, feito pelo ex-deputado europeu Daniel Cohn-Bendit, líder de Maio de 68, durante o Mundial de 2014.
Pelos títulos de alguns dos demais filmes, alguém poderia intuir as preocupações do mandato presidencial: Amor, A Corte de Babel, Um Tempo de Presidente, A Lei do Mercado, O Tempo das Confissões, O Poder, O Futuro.
"Kiosques" em perigo
As bancas de jornais de Paris – os chamados kiosques –, uma tradição de quase 160 anos (a primeira delas surgiu em 1857), em número hoje em torno de 370, vêm sendo ameaçadas de extinção pela crise econômica e da imprensa. Para que este patrimônio subvencionado, tão caro aos parisienses e turistas, não desapareça da paisagem citadina, a prefeitura decidiu modernizar e também ampliar as possibilidades comerciais das tradicionais bancas, que poderão passar a vender refrigerantes, guloseimas e outros produtos. Mas, no quesito relooking, a polêmica já começou. O novo visual dos kiosques, criação da designer francesa Matali Crasset, não acolheu unanimidade.