A eleição para prefeito de Londres, marcada para o próximo dia 5 de maio, está mexendo com as entranhas de uma cidade que, claramente, briga por identidade: manter a sua arraigada tradição ou abrir-se para as influências multiculturais do novo milênio. É um embate simbolizado também pelos dois principais concorrentes ao City Hall.
De um lado, o candidato do Partido Conservador, da situação, Zac Goldsmith. Jovem com pinta de galã, é a mais fina flor da elite inglesa – educado nas melhores escolas e filho de bilionário. Seu oponente, que parece ter largado com vantagem, é Sadiq Khan. Muçulmano, filho de imigrantes, é o candidato do Partido Trabalhista.
Por enquanto, a campanha tem se fixado mais na origem dos quarentões, ambos deputados, do que em suas plataformas. Num país fortemente classista, que idolatra sua rainha e debate diariamente como lidar com os imigrantes – não apenas os da comunidade europeia, mas os das antigas colônias inglesas –, a disputa não parece ser apenas casualidade.
Veja o perfil dos candidatos:
Zac Goldsmith, 40 anos
Candidato do Partido Conservador Estudou em Eton. A escola foi criada em 1440 e ainda tem alunos vestindo fraque. Formou 19 primeiros-ministros. Focado na política ambiental, propõe que todos os novos táxis da cidade sejam elétricos. É contra a expansão do atual aeroporto.
Sadiq Kahn, 44 anos
Candidato do Partido Trabalhista Filho de paquistaneses, estudou em escola pública. Seu pai foi motorista de ônibus. Pretende congelar as tarifas de transporte e criar mais oportunidades para a população em geral, de todas as faixas sociais, adquirir moradia própria.
Faxina real
A meninada da foto abaixo participou do Clean for the Queen ("Limpe para a Rainha"), iniciativa para estimular a população a preparar seu bairro para as comemorações dos 90 anos de Elizabeth. A proposta de envolvimento comunitário, na última semana, foi capitaneada por ONGs e muito criticada por quem viu no mutirão de limpeza uma forma de trabalho não remunerado para uma das mulheres mais ricas do reino. Ao todo, 82 mil voluntários se inscreveram.
A rainha faz 90 anos em 21 de abril, dia marcado com uma salva de tiros em pontos históricos. A festa será em 12 de junho. Explica-se: quando seus aniversários não coincidiam com o verão, monarcas instituíram uma data oficial de celebração. Como as comemorações incluem desfiles, tempo bom é fundamental.
Botticelli
Até julho, a exposição Botticelli Reimagined está em cartaz no museu Victoria & Albert. Foram quatro anos de planejamento para reunir 54 obras originais. A mostra não segue ordem cronológica e busca apresentar ao visitante o legado de Sandro Botticelli (1445 – 1510).
Em visita antes da abertura oficial, a cocuradora Ana Debenedetti disse à coluna:
– Botticelli não era apenas um pintor. Era um mestre, um gênio do design para bordados, trabalhos em madeira e roupas. Isso era normal para os renascentistas. Com os recursos que temos hoje, os artistas novamente podem produzir uma variedade de trabalhos em diferentes meios e mídias.
A curadoria cumpriu a proposta. Na sala que abre a mostra, há roupas de Dolce & Gabbana e Elsa Schiaparelli, tela de Vik Muniz e até uma roda de carro cujo design é “inspirado” na obra A Primavera. O Botticelli original (como o da Vênus ao lado) você só verá na quarta sala da exposição, para o grande encerramento.
A aparência engana
É um vegetal feioso, mas o sabor... Desembarque em Londres e comprove que a oferta de Jerusalém artichoke povoa os menus mais estrelados. Parece um gengibre, deve ser preparado como batata, mas é no gosto que está seu charme. Imagine o sabor do coração da alcachofra. Agora imagine isso numa batata. O tupinambo ou alcachofra-girassol é de origem americana, mas é na Europa, durante o inverno, que ele brilha assado, grelhado ou na forma mais tradicional, em sopas.