Nunca me esqueci nem me esquecerei de um registro que minha saudosa colega Eunice Jacques deixou escrito para celebrar um aniversário do jornal em que trabalhávamos juntos. Naquela ocasião, ela escreveu que gostava de folhear o impresso na manhã seguinte porque sabia que, em algum cantinho de página, teria alguma contribuição sua, fosse uma vírgula acrescentada na revisão de um texto, um título contado com batidas no tabulador do teclado, uma simples legenda de foto ou mesmo uma de suas sempre apreciadas crônicas. Nós, que escrevemos com certa regularidade, desfrutamos desse prazer secreto de identificar nossas próprias impressões digitais nas publicações que entregamos ao público.
Pois nesta 69ª Feira do Livro de Porto Alegre, que começa sexta-feira (27) com dezenas de atrações e milhares de obras de todos os estilos literários, pretendo curtir a minha gotinha de letras no oceano de histórias que inundará a Praça da Alfândega. Minha contribuição estará num livro de autoria coletiva, lançamento da Associação Riograndense de Imprensa com entrevistas feitas com 14 grandes escritores e jornalistas do Estado já falecidos.
Não é um novo Incidente em Antares, ainda que seu autor – o incomparável Erico Verissimo – esteja entre ressuscitados pela curiosidade jornalística. Todos os “entrevistados” já pertencem a outra dimensão, mas não chegamos a perturbar o seu descanso eterno para trazê-los à atualidade. Simplesmente realizamos uma pesquisa criteriosa das obras que nos deixaram e selecionamos frases significativas que servem de respostas para nossas perguntas pertinentes e impertinentes.
Esse foi o trabalho realizado pelos jornalistas que assinam o livro Entrevistas Póstumas – Eles Deixaram as Respostas, Nós Fizemos as Perguntas. E as perguntas, com a técnica da entrevista, foram feitas para 14 grandes romancistas, poetas e cronistas que espalharam talento por onde passaram.
Coube-me entrevistar ficticiamente, como já fizera tantas vezes na vida real, meu antigo colega de redação Paulo Sant’Ana. Ainda que guarde na memória muitas de suas frases espirituosas, inclusive algumas que nunca foram publicadas, recorri aos seus livros, às suas crônicas e às suas entrevistas para manter fidelidade total às mensagens deixadas. Creio que todos os meus colegas de empreitada fizeram o mesmo com os seus entrevistados, o que garante total autenticidade às respostas reunidas no livro que, a partir de sexta, estará à venda na Banca da ARI. Como sugere o inspirado slogan da Feira, quem lê sabe o caminho.