Dia desses usei a expressão “todos e todas” num texto e recebi imediata reprimenda de um leitor:
— Até você? Caiu no meu conceito! — escreveu o homem, na sua mensagem.
Não sei exatamente o conceito que o atencioso leitor tinha de mim, mas já vou esclarecendo: da mesma maneira como respeito a sua posição, também considero válidos os argumentos dos defensores da linguagem inclusiva, que usei naquele texto, ou da linguagem neutra, que inclui alterações ortográficas na definição do gênero dos pronomes.
Sei o quanto esse tema é incandescente por envolver paixões e preconceitos, mas nem por isso fico em cima do muro. De minha parte, pelo menos por enquanto, prefiro não usar os neologismos sugeridos por ativistas de grupos que não se identificam com a nomenclatura tradicional dos gêneros — até mesmo porque esses termos ainda não integram o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. Mas não me incomoda que outros usem.
O que decidirá essa contenda, que já chegou até mesmo ao Supremo Tribunal Federal, é exatamente o uso. Como ensinam os mais respeitados mestres da linguagem, quando você usa uma palavra nova ela passa a existir. Quando muitos usam, ela passa a integrar o idioma. A própria Academia Brasileira de Letras publica no seu site (ou saite, ou sítio, como você preferir) uma sessão semanal chamada Novas Palavras para registrar termos ou expressões que passam a ter uso corrente na Língua Portuguesa, podendo ser um neologismo, um empréstimo linguístico (olha o site aí) ou mesmo algum vocábulo antigo que voltou com novo sentido.
Se essas ainda estranhas palavras com xis no lugar de vogais e outras inovações ortográficas realmente caírem no uso popular, logo terão que ser reconhecidas pelos acadêmicos. O que não cabe é simplesmente proibir, como tentam fazer políticos mais conservadores com projetos de censura semelhantes ao que o Supremo acaba de derrubar em Rondônia, mais por questões formais do que pela consideração de mérito. De qualquer maneira, é um equívoco censurar. Se as crianças não tomarem conhecimento do assunto na escola, certamente se defrontarão com ele fora dela – e nem sempre com a visão plural que a educação formal deve oferecer.
Nesse debate sobre o sexo das palavras, ainda prefiro ouvir mais do que falar, mas defendo a inclusão de dois vocábulos com seus gêneros tradicionais: pluralismo e tolerância.