Porto Alegre ficou inquestionavelmente mais bonita com as pinturas de gigantes ilustres e anônimos nas paredes de alguns prédios estrategicamente localizados na área mais urbanizada da cidade. Minha preferida ainda é a de Mãe Bia, aquela mulher negra que olha para o futuro e protege uma plantinha entre as mãos estendidas, numa parede lateral do edifício do Daer. Pintada pela artista suíça Mona Caron e tendo como modelo a educadora e mãe de santo Beatriz Gonçalves Pereira, da Ilha da Pintada, a imagem transmite beleza e serenidade, mesmo para quem a observa de passagem em meio ao tráfego intenso da Avenida Borges de Medeiros.
Pois recentemente o magnífico mural ganhou um concorrente literalmente à altura, o retrato de perfil do ambientalista José Lutzenberger, pintado na sede do Instituto de Previdência do Estado, na mesma avenida. Assinado pelo artista Kelvin Koubik, o Mural Lutz mostra o nosso mais célebre defensor da natureza em plena atividade, aparentemente conversando com o cardeal pousado em seu dedo e cercado por pássaros e borboletas. Homenagem mais do que merecida e executada com extrema sensibilidade.
Cada vez que vejo os dois gigantes da Borges, me emociono e sinto aquela dor infinita de Mario Quintana pelas ruas de Porto Alegre onde jamais passaremos. Aliás, embora já fosse estátua, o nosso poeta maior também virou mural no Colégio Farroupilha, no bairro Três Figueiras, pintado por outro craque do grafite, o renomado artista Eduardo Kobra.
É dele também a nova obra em gestação que vai dar dimensão ainda maior ao folclorista Paixão Côrtes, modelo imortal do monumento do Laçador. O gaudério colorido começou a ser pintado no início desta semana, num paredão da antiga Companhia Fábrica de Vidros Sul-Brasileira, no 4º Distrito da Capital.
Há, também, gigantes menos famosos nas paredes da cidade, alguns pintados com esmero e outros nem tanto, mas todos transmitindo a humanidade que faltava ao concreto. Essas verdadeiras obras de arte servem ainda de contraponto às pichações de mau gosto que dominam muros e paredes em áreas mais periféricas e menos protegidas da metrópole.
Nossa cidade já era bonita por natureza, com seus parques floridos, suas extensas áreas verdes e muitas calçadas pintadas de pétalas de flores. Agora ganha um toque de magia nas suas edificações, ao mesmo tempo em que homenageia e eterniza os protagonistas do suave mistério amoroso detectado pelo poeta em suas esquinas esquisitas.