Não sei exatamente de onde meu pai trazia aquela árvore com cheiro de pinho, mas era ela que dava a largada para a semana natalina. Os adultos da casa carregavam com cuidado a planta recém abatida, pois suas folhas continuavam espetando como agulhas. Era colocada cuidadosamente numa caixa com terra, como se fosse replantada num canto da sala de nossa modesta casa de madeira. Só então as crianças ganhavam permissão para chegar perto e auxiliar na colocação das bolas coloridas, guardadas durante o ano todo em caixinhas de papelão sobre o guarda-roupa, pois eram frágeis demais para ficarem expostas às molecagens do dia a dia. O toque final da obra costumava ser a estrela de papelão pintada com lápis de cor e habilmente encaixada no galho mais alto.
Nada podia ser mais encantador do que aquela árvore sem vida com sua mortalha de enfeites coloridos. Naquele tempo, não passava pela cabeça de ninguém que o pinheiro abatido para decorar o Natal da família desfalcaria alguma floresta no seu importante trabalho de remoção de dióxido de carbono do ambiente – uma das causas do atual efeito estufa e do aquecimento do planeta.
Nosso planeta era uma família enorme, formada também por tios e primos. Na noite encantada, reuníamos todos em volta daquela árvore para esperar a mais desejada e temida visita ao olhar infantil, o velho vestido de vermelho que carregava um saco no ombro e uma vara de marmelo na mão livre. Morríamos de medo daquela aparição, quase sempre um dos tios precariamente fantasiado com um travesseiro na barriga e uma barba de algodão. Até hoje não sei por que Papai Noel tem que ser gordo.
Pelo que já pesquisei sobre o assunto, em algum lugar do passado, entre o São Nicolau magro de 300 anos depois de Cristo e o velhinho do anúncio da Coca-cola, em 1930, ele ganhou uma barriga que ficou para sempre. Eu mesmo, numa tresloucada aventura profissional em que me disfarcei de Papai Noel de shopping para fazer uma reportagem, tive que improvisar uma pança postiça para enganar as crianças. Ainda não me penitenciei o suficiente daquela travessura.
Talvez já tenha chegado a ela previamente castigado pela varinha do tio Noel, que quase sempre enchia o tanque antes de encarar o papel de astro da noite. E, nesse estado, não era incomum que já chegasse distribuindo açoites nas pernas dos meninos mais lentos, que era o meu caso.
Mas depois vinham os presentes, os doces, os risos, a magia inigualável daquela noite com cheiro de pinho e infância.