Verdadeiro hino à persistência, o curto texto de Jacob Riis me vem à cabeça sempre que o mundo parece inóspito, como ocorre nesses tempos sombrios de guerras, fomes e ódios políticos. “Quando nada parece dar certo – escreveu o dinamarquês naturalizado norte-americano -, vou ver o cortador de pedras martelando sua rocha cem vezes, sem que uma só rachadura apareça. Na centésima primeira a pedra se abre em duas, e sei que não foi aquela que conseguiu isso, mas todas as que vieram antes”.
Meu recurso é outro, até mesmo porque os cortadores de pedras andam cada vez mais raros nesta época de urgência e máquinas predatórias. Busco a paz dos livros ou de uma conversa serena e instrutiva, como a que tive na semana passada com o poeta Armindo Trevisan, no ambiente mágico da Livraria Erico Verissimo. É um prazer ouvi-lo, aprender com ele, pegar carona no seu trem de palavras que desliza suave pelas planícies da fé, da imaginação e da poesia. Como Virgílio com Dante, Armindo guia seus interlocutores pelos nove círculos do céu.
– É o livro mais bonito que já fiz – me conta com brilho nos apertados olhos azuis.
Refere-se à sua mais recente obra, Bela como a Lua, dedicada à Nossa Senhora e ainda no prelo da Editora AGE, mas já em pré-venda com direito a autógrafo do autor. O título inspirado vem do Cântico dos Cânticos, capítulo 6, verso 10: “Quem é essa que desponta como a aurora, bela como a lua, fulgurante como o sol”. Mas a verdadeira inspiração vem de sua infância:
– Minha mãe me contou que fui curado de asma por intercessão de Nossa Senhora. Muito tempo depois, sendo escritor, me senti ingrato por não ter feito um livro para ela.
A dívida está paga. E, pelo que ouvi, foi quase como cortar uma grande pedra. Trevisan levou 18 anos para concluir o trabalho, esteve 16 vezes na Europa, comprou livros raros na França, em latim e francês, até que finalmente considerou concluída sua homenagem em forma de prosa poética.
– É um livro de carinho, de elegância, de finesse, pois não poderia fazer uma coisa descuidada – conta.
Não li (até mesmo porque os originais ainda estão com a editora), mas já gostei. Tanto que liguei para o professor Paulo Flávio Ledur, editor e revisor do texto, para recolher suas impressões:
– Sou suspeito para falar, mas adianto que só o estudo comparativo com o Auto da Compadecida já vale a leitura do livro – me informou o professor Ledur.
Está prometido para a segunda quinzena de novembro. Já garanti meu lugar na fila de interessados nessa pedra preciosa.