* Texto publicado em ZH no espaço do colunista David Coimbra, que está em licença-médica.
Querida Helena! Querido Miguel!
Vocês não me conhecem, mas eu tive a felicidade de vê-los nascer no ano desafiador de 2021, em que milhões de brasileiros começaram a retornar do medo para a vida, ainda doloridos de saudade dos parentes e amigos que ficaram pelo caminho.
Ver, exatamente, não vi, mas acompanhei a notícia sobre o registro de pessoas naturais no Brasil, naquele segundo ano da pandemia. Um levantamento feito pela Arpen, em 7.658 cartórios de Registro Civil do país, mostrou que 28.301 meninos receberam o nome Miguel e 21.890 meninas passaram a se chamar Helena, no ano passado. Nomes bonitos e inspiradores. Foram os preferidos pelos papais e mamães recém-saídos da quarentena.
Portanto, vocês, que já se tornaram populares no registro de nascimento, representam milhares de brasileirinhos e brasileirinhas que, com nomes iguais ou diferentes, também herdarão o futuro. Como já vivi o futuro algumas vezes, compartilho com vocês um pouco do que vi e senti, na esperança de que as experiências de minha geração, boas ou más, tenham alguma utilidade para as escolhas que vocês fatalmente terão que fazer.
Comecemos por uma palavrinha chamada diversidade. Nomes iguais, nomes diferentes, mas a mesma natureza: pertencemos todos a uma única família humana. Vocês, Miguel e Helena, são irmãozinhos dos bebês que nasceram em outros Estados, em outros países e em outros continentes, ainda que eles tenham aparência física diversa e muito provavelmente herdem outros hábitos, outras crenças e outros valores culturais. Minha geração, confesso, nunca lidou bem com isso. Em vários momentos, rejeitamos pessoas que julgávamos diferentes de nós, discriminamos gente de outra raça, de outra cor, de outra condição social, fomos preconceituosos e intolerantes, criamos fronteiras e deflagramos guerras contra nossos próprios irmãos. Não nos imitem nisso, foi um desperdício de energia, de sensatez e de inteligência.
Referi acima a palavra natureza. Também não soubemos tratar com o respeito devido essa mãe de todas as vidas. Em muitas ocasiões, maltratamos animais, poluímos a água e o ar, destruímos florestas e derretemos geleiras – por coisas ilusórias, como riqueza, ganância e poder. Por favor, meninos, façam o contrário. Amem os animais, preservem o ambiente natural, desapeguem-se de valores que nada valem – pois só sendo solidários e fraternos é que vocês conquistarão a paz.
Por fim, deixo uma última mensagem a vocês, Helenas e Miguéis do Brasil: cresçam e multipliquem essa pureza de espírito que todas as crianças recebem ao nascer. Curtam a alegria, o companheirismo, as artes, a cultura, a saúde, os esportes, a ética, o conhecimento, o convívio social, os familiares, os amigos – e, principalmente, amem-se. É só o que importa.
P. S.: Não esqueçam de escolher nomes bonitos para seus filhos.