Nunca mais haverá um ano como aquele. Quem já estava por aqui sabe muito bem: 1969 foi um ano inesquecível. Para mim e para a humanidade. Quando Neil Armstrong deu aquele pequeno grande passo na Lua, a impressão geral era de que não haveria mais limites para o progresso humano e a felicidade coletiva. A juventude, embalada pelos sopros de liberdade de maio do ano anterior, dançou e cantou no festival de Woodstock. Do "é proibido proibir" ao "paz e amor" foi um zás – como se dizia na época.
Foi o ano em que passei no vestibular da UFRGS. Na parede do meu quarto, tinha uma foto de Elis Regina e uma frase que devo ter recortado de alguma publicação, por achá-la emblemática para os meus 20 anos:
– Qual é o teu mundo, bicho?
Éramos "bichos", por conta dos ídolos da Jovem Guarda e dos festivais de música que eram verdadeiros campeonatos nacionais paralelos ao futebol. No mundo da bola, foi também o ano em que Pelé marcou o seu milésimo gol, com repercussão mundial e um pedido contundente pelas criancinhas pobres do país.
Pobres crianças. O país tinha outros planos. Pelé até fez a sua parte, ganhando o Tri no ano seguinte, mas o milagre econômico brasileiro e a tese de primeiro fazer o bolo crescer para depois reparti-lo esfarelaram-se com a crise do petróleo e a hiperinflação.
Bem, parece que foi ontem, mas tudo isso ocorreu há 50 anos. E ainda não consigo encontrar uma resposta satisfatória para a pergunta da parede.