Na antevéspera de completar 92 anos, Cid Moreira reaparece lépido e faceiro nas celebrações do cinquentenário do Jornal Nacional, que sua poderosa voz inaugurou em 1969. Ele bateu recorde como âncora no programa jornalístico mais popular do país, permanecendo durante 27 anos na bancada hoje ocupada por William Bonner e Renata Vasconcellos. Encerrado o ciclo no noticiário, reinventou-se no Fantástico, em participações especiais nas transmissões de Copas do Mundo e também no empreendedorismo pessoal, como narrador de salmos bíblicos, palestrante e, mais recentemente, como influenciador digital no Instagram e YouTube.
Depois de ouvi-lo declamando salmos — dizem as más línguas que ele gravou a Bíblia inteira, do Gênesis ao Apocalipse —, concluí que ele seria imbatível naquela eleição fictícia do locutor mais apropriado para ler a notícia do fim do mundo. Cid Moreira troveja quando quer. Basta lembrar sua entonação grave para anunciar Mister M, o terror dos mágicos, ou para, em 2010, transformar a bola da Copa da África do Sul — a Jabulaaaaani — num bumerangue desgovernado.
Nonagenário e com vários casamentos no currículo, Cid Moreira ingressa ativo, lúcido e bem-humorado na era digital. Outro dia acompanhei sua participação no programa Lady Night, de Tatá Werneck. Foi divertidíssimo. O veterano apresentador brincou o tempo todo, fez imitações de animais e modulou sua voz com invejável maestria, inclusive formulando o seu famoso “Boa Noite” (título emblemático da sua biografia) para as mais diferentes situações sugeridas pela humorista. Normal, zangada ou sonolenta, a saudação de Cid Moreira sempre impressiona.
O homem de Taubaté nasceu com um brado retumbante na garganta. É a verdadeira Voz do Brasil.