Encontro o poeta e teólogo Armindo Trevisan na Livraria Erico Verissimo, um paraíso de livros que ambos costumamos frequentar no Centro Histórico de Porto Alegre. Gostava dele antes de conhecê-lo pessoalmente. Agora gosto mais, tanto pela qualidade dos seus escritos quanto por sua atenção e delicadeza de homem de bem com a vida. Generoso, presenteou-me com seu último ensaio, O Credo de São Tomás (explicado a um jovem de hoje). Brinquei:
– Eu, como jornalista, se tivesse fôlego e erudição para escrever um livro desses, escreveria O Credo de São Tomé, que é o padroeiro dos céticos.
Foi o que bastou para a nossa conversa derivar para o delicado e sempre instigante tema de crer ou não crer na existência de Deus. Ele citou Carlos Drummond de Andrade, amigo de tempos pretéritos, que era um descrente assumido, ainda que de vez em quando suas poesias flertassem com o divino. Os críticos ainda debatem se Drummond era ateu ou agnóstico. Palpitei outra vez:
– Acho que se assumir agnóstico é um atestado de humildade e honestidade intelectual. A pessoa não nega a existência de Deus, apenas confessa que não sabe se ele existe.
O poeta santa-mariense, então, me contou que o próprio Drummond lhe confessou sua dúvida:
– Ele me disse que nunca conseguiu se convencer da existência de Deus. E brincou: "Até gostaria que existisse".
Trevisan não tem qualquer dúvida sobre o assunto, embora sua trajetória de vida pudesse sugerir o contrário. Jovem interiorano e integrante de uma família católica, optou pelo sacerdócio quando ainda não tinha maturidade para tomar tal decisão. Ao perceber que não era esta a sua vocação, pediu dispensa dos votos religiosos e assumiu um compromisso irrenunciável com a literatura, com a arte e com a poesia – sem, no entanto, retroceder um milímetro na sua fé.
O Credo de São Tomás de Aquino, meu presente de aniversário autografado pelo poeta, é exatamente uma reflexão inteligente, sensata e bem fundamentada sobre o ato de crer. Leitura ideal para um devoto de São Tomé.