O tempo para, sim. Não apenas para como também retrocede. Neste terceiro sábado de fevereiro, por exemplo, os brasileiros da parte de baixo de mapa (10 Estados e mais o Distrito Federal) voltarão da meia-noite para as 11 horas (23h, para ser mais exato), recuperando o adiantamento do dia 4 de novembro, quando entrou em vigor o horário brasileiro de verão de 2018/19. Essa brincadeira com o relógio começou em 1932, no governo de Getúlio Vargas, e desde então vem dividindo a população entre os que odeiam e os que adoram o joguinho de enganar o Sol e a Lua – que, na verdade, é uma autoenganação.
Os astros nem ligam para esse dilema que inventamos, pois nem mesmo o Supremo Tribunal Federal – que dá a palavra final sobre todas as controvérsias nacionais – tem poderes para alterar as leis do Universo. Mas gostamos de nos iludir. Para isso, criamos essas maquininhas de marcar a passagem do tempo, que já mudaram de formato várias vezes sem perder sua inexorável e funesta função: avisar aos humanos que a marcha da vida não tem volta. O relógio de parede, na visão do poeta Mário Quintana, é o mais feroz dos animais domésticos:
- Conheço um que já devorou três gerações de minha família – queixou-se o alegretense.
Mas eles também marcam as horas alegres. Os relógios da casa de José Saramago e Pillar del Rio, nas Ilhas Canárias, congelaram na marca de 16 horas. Ainda estão assim, nove anos depois da morte do escritor português, para assinalar o momento exato em que ele conheceu a mulher espanhola, com quem viveu já na maturidade uma linda aventura de amor e companheirismo.
O horário do outono também pode ser feliz e prazeroso.