Cristóvão Colombo, vejam só, foi derrubado esta semana de seu pedestal na cidade norte-americana de Los Angeles, uma das metrópoles do continente que historicamente o cultuou como descobridor e herói. Não mais. As autoridades responsáveis pela remoção da estátua disseram que estavam praticando um ato de justiça reparadora, pois o genovês, segundo a atual releitura da história, foi apenas o representante da expansão dos impérios europeus, da apropriação de terras alheias e do genocídio de nativos. A cidade californiana também substituiu o Dia do Descobrimento pelo Dia dos Povos Indígenas.
Um dos livros que mais admiro, A História da Raça Humana Através da Biografia, do historiador inglês Henry Thomas, igualmente desmitifica Colombo – como também outros personagens ilustres da humanidade. Conta que ele esteve quatro vezes na América, sempre atrás de ouro e joias, mas não foi o verdadeiro descobridor do novo continente, explorado quase 500 anos antes pelo navegador escandinavo Leif Ericson. Colombo morreu pensando que chegara à Índia. Por ironia, quem se apropriou da descoberta foi o aventureiro italiano Américo Vespúcio, que acabou dando nome à nova terra. Thomas registra, divertido: “O homem que descobriu a América no ano 1000 ficou quase esquecido, aquele que a tornou a descobrir em 1492 foi considerado o verdadeiro descobridor e, finalmente, aquele que falsamente proclamou tê-la descoberto, em 1497, foi imortalizado por ter dado seu nome ao novo mundo”.
O ensaio de Henry Thomas foi escrito em 1938, mas continua atual. Se acharem essa raridade em algum balaio da Feira, comprem-no de olhos fechados.
Adoro ler novas versões da história, mas nesta questão do revisionismo sistemático, confesso, sou um pouco conservador. Sinto-me de certa forma ludibriado sempre que algum personagem que conheci como herói acaba desmascarado pela releitura ou pelo politicamente correto. Decididamente, não tenho vocação para iconoclasta. Porém, sou obrigado a reconhecer que uma história mal escrita merece ser recontada à luz da verdade, desde que essa verdade seja baseada em investigação, em pesquisas sérias, em novas descobertas e no debate exaustivo e plural.
Estou ansioso para ouvir os advogados de defesa desse tal Colombo. Quem sabe a estátua não volta para o seu pedestal?