O Brasil recomeça a cada dia. Temos uma história política conturbada, com revoluções pacíficas e sangrentas, renúncias, golpes e impeachments, despotismos e populismos, mas somos um povo resiliente – para usarmos uma palavrinha da moda, talvez um pouquinho pernóstica, porém adequada para o momento atual. Resiliência, como sabem as leitoras e os leitores, é a capacidade de uma matéria (ou de um ser humano) de retornar ao seu estado natural, principalmente depois de uma situação crítica e fora do comum.
Foi o que o país viveu nas recentes eleições. Por isso agora, independentemente de quem ganhou ou perdeu, os brasileiros precisam se reconciliar uns com os outros – e essa tarefa não é apenas dos novos governantes ou daqueles que se alinham na oposição. É, sim, de todos nós. Eu e você, ao nascermos nesta terra abençoada por Deus e bonita por natureza, fomos automaticamente eleitos para fazermos a nossa parte na construção permanente de uma pátria amada, próspera e solidária. Mãos à obra, gente.
Não sejamos ingênuos. Teremos, evidentemente, muitos conflitos pela frente, pois recém estivemos divididos entre ideias e propostas antagônicas. Mas nossas divergências podem ser resolvidas de forma civilizada, como o foram recentemente pelo voto da maioria, ainda que uns poucos desajustados tenham apelado para facadas, mentiras e impropérios pelas redes sociais. Pois que a vontade da maioria seja respeitada, sem perseguições por parte dos eventuais vitoriosos nem inconformismo obsessivo por parte dos vencidos.
Reconciliação não é opressão nem submissão. É, simplesmente, diálogo.
Também não se resume ao perdão incondicional. O filósofo chinês Confúcio considerava brutal vingar um insulto, mas também tolo perdoá-lo. Ele aconselhava, sabiamente:
– Trata teu amigo com bondade e teu inimigo com justiça.
Já o mencionei em outros comentários, principalmente pela insuperável resposta que deu aos discípulos que o desafiaram a resumir todo o seu código de ética em uma só palavra.
– Reciprocidade! – ele respondeu.
Simplificando: trate os outros como gostaria de ser tratado. Não seria esse um bom caminho para a reconciliação nacional?