Depois da enxurrada de vídeos remetidos à Globo por cidadãos de todos os recantos do país, inclusive de dezenas de municípios de nomes esquisitos que nem sequer imaginávamos existir, parece não haver mais dúvida sobre o Brasil que os brasileiros querem para o futuro. Excluídas algumas manifestações mais criativas e os tradicionais xingamentos a políticos, os artistas por 15 segundos que aparecem nos celulares “deitados” vêm apelando por um país sem corrupção, sem poluição, sem obras inacabadas, sem miséria, sem violência, com educação, saúde, segurança e empregos para todos, de preferência remunerados com salários dignos.
Fico pensando se não deveríamos perguntar ao país: – Que brasileiro você quer para o futuro, Pátria Amada?
Assino embaixo, evidentemente, mas fico pensando se não deveríamos dar continuidade ao projeto midiático com outra campanha no mesmo tom, desta vez endereçada ao próprio país:
– Que brasileiro você quer para o futuro, Pátria Amada?
Não tenho a pretensão de responder pelo país, que talvez até iniciasse a sua lista pedindo brasileiros menos pretensiosos. Ainda assim, me atrevo a imaginar algumas respostas que o Brasil personificado poderia dar ao suposto questionamento. Em primeiro lugar, é provável que corrigisse a própria pergunta:
– Por que futuro? Preciso de brasileiros conscientes e íntegros agora.
E acrescentaria em seguida:
– Quero brasileiros que não cometam nem compactuem com pequenas corrupções ou desvios de condutas já incorporados ao nosso cotidiano, como furar fila, usar carteirinha falsificada, apropriar-se de troco errado, assinar lista de presença por colega, fazer ligação clandestina de luz ou TV a cabo, estacionar em fila dupla, sonegar tributos, jogar lixo no chão, incomodar vizinho com música alta, dar exemplo de egoísmo para os filhos.
No segundo vídeo imaginário, talvez o nosso querido Brasil, que também deve estar acompanhando a Copa, desse o seu recado sobre preconceitos e preconceituosos:
– Quero, também, brasileiros que respeitem os seus semelhantes, que evitem piadas racistas e discriminatórias, que não deem vexame no Exterior com comportamentos machistas e preconceituosos, nem tentem explorar a ingenuidade de estrangeiros com gracinhas que não têm nenhuma graça.
Por fim, sem desconsiderar os apelos por um Brasil mais decente que os cidadãos de todos os quadrantes continuam gravando, o país completaria:
– Quero cidadãos que se posicionem, mas também que ajam; que não apenas exijam um país melhor, mas que também ajudem a construí-lo, trabalhando, cumprindo suas obrigações, defendendo a democracia, escolhendo representantes comprometidos com a decência e com os interesses coletivos. Quero brasileiros que cobrem justiça e que lutem contra a impunidade, mas que também sejam justos e não tentem se colocar acima da lei. Quero brasileiros que, antes de me perguntar se posso fazer alguma coisa por eles, perguntem-se o que podem fazer por mim.