Nem Alvin Toffler, nem outros futuristas da tecnologia previram que, um dia – no último domingo, para sermos mais precisos –, o goleiro do Atlético Paranaense levaria o seu celular para dentro de campo e ficaria mexendo no aparelho até o momento em que a bola começasse a rolar, num jogo pelo principal campeonato do país pentacampeão do esporte mais popular do planeta. Depois, como vimos, ele colocou o smartphone ao lado da trave e passou a prestar atenção na disputa, mas não conseguiu impedir a derrota de sua equipe. Até fez boas defesas, embora tenha dado um passe de cabeça para o adversário no gol decisivo. Por imperícia, reconheça-se. Não foi culpa do celular.
A insólita atitude do goleiro ganhou repercussão porque nada escapa às dezenas de câmeras que acompanham o futebol profissional. Até acho que ele merecia mesmo o destaque que teve, mas por outra razão: como é que aquele cara consegue digitar de luvas grossas se eu, até quando uso o indicador, troco letras e levo rasteiras do corretor ortográfico? Ok, imperícia também. No dia seguinte, o clube explicou que se tratava de uma pegadinha publicitária, para conscientizar as pessoas sobre o uso do celular no trânsito. Deve ser para o carro-maca, que é o único a circular nos gramados.
De qualquer maneira, o goleiro que entrou em campo com o celular evidencia um fenômeno destes tempos digitais, que é a nossa extrema dependência do brinquedinho de comunicação instantânea. O telefone móvel tornou-se um verdadeiro vício comportamental deste início de século. Pesquisa recente da empresa VitalSmarts Brasil, especializada em comportamento corporativo, mostra que 93% dos entrevistados mexem no celular enquanto dirigem, 67% o utilizam na hora das refeições, 35% na igreja e 25% na escola.
E nem é preciso recorrer a pesquisas para constatar, a qualquer hora do dia e da noite, pessoas hipnotizadas pela telinha luminosa em todos os lugares, nas paradas de ônibus, no transporte coletivo, no trabalho, na rua e, principalmente, em casa – mesmo quando a família está reunida. Encontros pessoais e de trabalho viraram monólogos silenciosos, nos quais os participantes ficam o tempo todo consultando e digitando em seus aparelhos. Nem é preciso olhar pelas frestas dos vidros escuros dos automóveis para se saber por que alguns (ou muitos) motoristas demoram a avançar depois que o sinal abre. Quem já não viu ciclistas, motociclistas, skatistas e outros istas com o celular na mão, sem parar ou reduzir a velocidade de seus veículos? Com frequência cada vez maior, ocorrem acidentes envolvendo também pedestres distraídos por seus celulares.
Há, porém, outro efeito da submissão à tecnologia que ainda não foi suficientemente mensurado: os danos às interações pessoais. Exagerando um pouco, ninguém mais conversa com ninguém. Estamos substituindo a afetividade do olho no olho pela comunicação virtual, destituída de calor e emoção. Por justiça a Toffler, vale lembrar que ele alertou, no seu O Choque do Futuro, que o excesso de mudanças em pouco tempo poderia causar desorientação e se transformar na doença do amanhã.