Comecei a pesquisar meus antepassados na internet e já cheguei aos parentes portugueses e açorianos que atravessaram o oceano para plantar suas sementes por aqui.
O curioso das árvores genealógicas é que elas crescem no sentido da raiz, e os sobrenomes se misturam de tal maneira que a conclusão se torna inevitável: a família humana é mesmo uma só. Aliás, quem ainda tem dúvida sobre isso precisa ler Sapiens – Uma Breve História da Humanidade, do israelense Yuval Noah Harari. Ele afirma com todas as letras: "Há apenas 6 milhões de anos, uma mesma fêmea primata teve duas filhas. Uma delas se tornou a ancestral de todos os chimpanzés: a outra é nossa avó".
Criacionistas e evolucionistas que se entendam, não vou entrar nesse debate. Mas o lado pitoresco desta história merece registro. Conta-se que uma dama inglesa da época de Charles Darwin, escandalizada com a sua teoria, teria afirmado:
– Tomara que não seja verdade. Se for, tomara que ninguém fique sabendo.
Pois ficamos. E agora, graças aos avanços da tecnologia e da comunicação, ganhamos o poder de retornar no tempo e desencavar a história de nossos ancestrais. Não voltei tanto assim, mas descobri, com a ajuda de um sobrinho mais ágil no mundo digital, que meu undecavô João Pereira de Souza foi artilheiro da armada portuguesa e que seu navio, o galeão São João Batista, era uma verdadeira máquina de guerra. Tinha 366 canhões de bronze, 600 mosqueteiros, 400 soldados e 300 artilheiros. Por isso, meu parente ganhou o apelido de Botafogo, que transferiu para a sesmaria adquirida no Rio de Janeiro, de onde se originaram o bairro e o clube do mesmo nome. Conclusão: tenho sangue botafoguense.
Mas prefiro manter a neutralidade. Até mesmo porque o referido marinheiro é apenas um dos meus 4.096 possíveis avós neste grau de parentesco, considerando-se a natural progressão geométrica da ancestralidade. Sabe-se lá o que fizeram os outros.
O interessante é que em menos de meio século a humanidade deu um salto gigantesco. Não apenas aumentou de 500 milhões de Homo sapiens para 7 bilhões, mas também consolidou um poder imenso. Harari diz em seu livro que, se um navio de batalha moderno fosse transferido para a época de Colombo, poderia destruir em segundos toda a frota do genovês e mais as esquadras das grandes potências mundiais da época, sem sofrer um único arranhão.
Ainda bem que é só uma suposição, pois meu undecavô poderia estar no fundo do mar, e eu talvez nem estivesse aqui para contar essa história.