Dinheiro na mão é vendaval, diz Paulinho da Viola no seu Pecado capital. Como esse é um fenômeno universal desde que os lídios inventaram a moeda, na Idade do Ferro, os comerciantes norte-americanos bolaram uma data e uma estratégia para que o dinheiro voe das mãos dos clientes para a caixa registradora das suas lojas – e chegamos a esta sexta-feira de descontos, que se convencionou chamar de Black Friday.
– Tudo pela metade do dobro! – ironizam os desconfiados, mas a tentação é grande, principalmente quando se sabe que basta um clique ou um toque com a ponta do dedo para a compra se efetivar.
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E as ofertas são gritantes, invasivas mesmo. Espocam nas vitrines, na televisão e nas redes sociais. Mesmo que não se tenha um centavo no bolso, pode-se comprar a crédito. Trata-se, na verdade, de uma volta ao escambo da era pré-
moeda: permuta-se o futuro pelo agora. Leve o que quiser e pague (bem mais do que a mercadoria vale) no próximo ano, que vai chegar muito mais rapidamente do que você imagina.
Dizem os estudiosos da mente humana que 3% da população sofre de oniomania, que vem a ser a compulsão de comprar. Os compradores compulsivos não conseguem resistir a uma liquidação e costumam gastar mais do que podem. Hoje é um dia de festa para eles, mesmo que amanhã seja dia de lamentação.
Em tempos de espertezas digitais e analógicas, o risco maior nem é a compra descontrolada, mas sim a "black fraude". Confesso que não sou um comprador exemplar, mas andei pesquisando a respeito do assunto e aproveito para repassar aos leitores e leitoras alguns conselhos que recolhi dos órgãos de proteção ao consumidor. Desconfie de lojas virtuais que oferecem grandes descontos, confirme se o preço das mercadorias não subiu na antevéspera da liquidação, tenha certeza de que o produto adquirido existe no estoque para recebê-lo no prazo combinado. Sintetizando, na linguagem popular: não compre gato por lebre. Se bem que um gato persa, com um bom desconto para pagamento à vista, pode ser um baita negócio...
Dinheiro na mão, como diz Paulinho, é solução. E, com o gatinho, deixa de ser solidão.