Dia desses, uma colega de trabalho trouxe para a Redação o seu neto de sete anos. O menino, que faz parte desta geração de acelerados pela tecnologia, chegou com o smartphone na mão e já foi demonstrando para os tiozinhos da sala da Opinião como se caçam pokémons.
– Tem uma fumacinha aqui que atrai eles – revelou, clicando rapidamente nas teclas que provocam o mágico incenso virtual.
E dê-lhe pokebolas nos monstrinhos.
Ficamos todos observando o jovem caçador, que não apenas dava sequência ao jogo como também ia narrando seus truques.
– Esse serve para poupar a bateria, assim dá para lançar uma bola em curva...
Um colega mais curioso – e bem mais velho do que o pequeno mestre –, resolveu fazer uma pergunta:
– E esse bichinho de galocha aqui, quem é?
– Galocha? – perguntei em tom de censura ao colega. O guri não pode saber o que é isso, concluí mentalmente.
O menino deu um sorrisinho superior, voltou a teclar e narrou em voz alta:
– Nada que o Tio Google não resolva.
E acabou concluindo que o monstrinho apontado é um tal Cobalion, um pokémon lendário, tipo metálico, que parece velho porque tem barbas brancas e cara de bode.
Instintivamente, passei a mão na minha barba branca e disfarcei, fazendo de conta que estava pesquisando alguma coisa importante no computador. É tão desconcertante o universo dessa garotada pós-geração digital que os tiozinhos ficam boquiabertos diante da rapidez com que eles encontram soluções para tudo. Boquiaberto deve ter no Google.
Depois daquela aula de pokémons, me deu vontade de calçar as minhas galochas e sair de mansinho.