Faz sucesso na internet um teste de audição que identifica a idade das pessoas pela sua capacidade de ouvir determinadas frequências de sons. De acordo com pesquisas científicas – ou com adolescentes ingleses superdotados, sei lá, pois há diversas versões para a origem da brincadeira –, só pessoas com menos de 20 anos conseguem ouvir vibrações sonoras acima de 18.000 hertz (Hz), que é a unidade usada para medir a frequência de ondas e vibrações.
Na prática funciona assim: jovens convidam pessoas mais, digamos, maduras a escutar o barulhinho no computador ou no smartphone e se divertem quando a vítima arregala os olhos sem ouvir nada. Tem ciência nisso, evidentemente. A medicina comprova que as pequenas células que formam os cílios auriculares vão morrendo e não se regeneram, à medida que o indivíduo envelhece. Por isso muitos idosos têm dificuldade de audição.
Há, inclusive, uma tabela classificatória: frequência de até 8.000 Hz pode ser ouvida por pessoas de qualquer idade sem problemas auditivos, 12.000 Hz só pessoas abaixo de 50 anos, 15.000 Hz só para os de menos de 40 anos, 16.000 Hz só são percebidos por quem tem menos de 30, e acima de 18.000 Hz só para quem tem menos de 20 anos.
No contexto do histórico conflito de gerações, a descoberta vem sendo utilizada como arma pelos dois lados: jovens se divertem com a incapacidade dos mais velhos e até utilizam a frequência inaudível pelos pais no ringtone do celular, para que estes não ouçam as chamadas que recebem. Já alguns adultos, especialmente donos de lojas na Europa, mantêm ativo um som irritante na frequência jovem, a fim de afastar grupos que ficam namorando e conversando sem consumir.
Vejo neste episódio também um significado simbólico. Nós, adultos, vivemos nos queixando de que os nossos jovens não nos ouvem. Os adolescentes, por sua vez, alegam que os adultos não os entendem.
Faz sentido: uns e outros utilizam frequências diferentes tanto para falar quanto para ouvir. Mas a principal questão, neste embate geracional, talvez não seja a diferença auditiva. Pesa mais, na minha visão, a frequência afetiva. Não há quem não ouça o som do beijo, do abraço e do gesto de carinho, mesmo quando essas manifestações são silenciosas.