A polêmica divulgação dos grampos de Lula me fez lembrar de uma vizinha que se escandalizava com as cenas de nudez e agarração dos bailes de Carnaval transmitidos diretamente pela televisão.
– Que vergonha! Que baixaria! Fiquei vendo até as cinco da manhã! – contava, no dia seguinte.
Foi ilegal, foi quebra de sigilo, o juiz Sergio Moro levou uma carraspana do Supremo Tribunal Federal, mas o país adorou ouvir aquela conversalhada indiscreta, recheada de palavrões e bajulações. Os diálogos tiveram mais audiência do que capítulo final de novela. E foram repetidos à exaustão pelos meus coleguinhas de ofício, compreensivelmente os mais entusiasmados com os flagrantes. Claro que não me refiro às consequências políticas, isso cada um viu com os olhos que quis ver.
Para a imprensa, não pode mesmo haver sigilo em casos como esse, até mesmo porque a responsabilidade pelo resguardo de informações confidenciais é dos servidores públicos encarregados de protegê-las. Deixar de divulgar diálogos explosivos como aqueles é que seria absurdo, além de desrespeito ao público, inquestionavelmente interessado em conhecer os conteúdos. Notícia, já disse o repórter do Watergate Bob Woodward, é aquilo que alguém quer esconder.
O que realmente causou perplexidade foi a constatação de que pessoas experientes na política, como o próprio ex-presidente, deixaram-se apanhar daquela maneira, sabendo que a Polícia Federal e os investigadores da Lava-Jato estavam nos seus cangotes. Mais do que isso: deveriam saber que, no atual ambiente de comunicação plena e instantânea, tudo o que se faz e fala está sujeito a registro público. Veja-se, por exemplo, o recente comentário do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal, sobre a foto de peemedebistas celebrando a saída do governo.
– Meu Deus do céu, essa é a nossa alternativa de poder! – disse, pensando que estava numa conversa reservada com estudantes.
Não estava nos autos, mas foi para o mundo.
Quem ainda não entendeu que estamos vivendo na era do grampo corre sérios riscos.