Uma das mais fascinantes histórias da mitologia grega é a da Caixa de Pandora, de onde teriam saído todos os males do mundo. Começa com uma traquinagem: Prometeu (nome que significa "o que pensa antecipadamente", portanto, um esperto) roubou o fogo de Zeus e levou-o aos homens para que se aquecessem e se protegessem das feras. Zeus, furioso, bolou uma vingança verdadeiramente maligna: criou a primeira mulher, Pandora (que significa "todos os dons", portanto, linda de morrer, sedutora), e a ofereceu de presente para o tapado Epimeteu, irmão de Prometeu. Epimeteu significa "o que pensa depois", portanto, pamonha. Se bem que, diante de uma mulher daquelas, é provável que qualquer homem pensasse depois.
Como presente de casamento, Zeus deu a Pandora uma caixa que ela não deveria abrir nunca. Se a curiosidade matou o gato, como a gata iria resistir? Pandora abriu só uma frestinha e de lá saíram, lépidos e faceiros, todos os males do mundo – a doença, a guerra, a velhice, a mentira, os crimes, o ciúme e mais um monte de etecéteras. A mulher fechou ligeirinho, mas só conseguiu evitar que saísse o mais lento e enigmático dos sentimentos humanos – a esperança.
Desde então, os homens castigados pela desgraceira divina passaram a acreditar que a esperança é a última que morre, ou é aquela que não morre nunca. Jamais teremos certeza, porém, se ela é um bem, que nos mantém de pé nos piores momentos, ou um mal, que nos faz inertes quando deveríamos agir.
Não sei quem abriu a Caixa de Pandora neste país gigante pela própria natureza, que agora já não se conforma em ficar deitado em berço esplêndido. É tanta coisa ruim ao mesmo tempo – do zika ao Bessias –, que parece mesmo um castigo divino. Às vezes temos a impressão de que a esperança também escapou, pois já não acreditamos em nada, nem em ninguém.
Mas aí nasce um novo dia – e o sol da liberdade brilha no céu da pátria com seus raios fúlgidos. É muito lindo este nosso Brasil! Algo deve ter ficado no fundo da caixa.