Não foi só um carrinho na área adversária para desarmar quem tinha a bola e fazer o gol do empate contra o Juventude no Beira-Rio. O que Thiago Maia fez casa com sua atitude durante a enchente ao entrar na água suja para salvar sobre os ombros uma mulher em dificuldade. Casa com sua relevância no Flamengo campeão da Libertadores e da Copa do Brasil com Dorival Júnior e casa, especialmente, com o momento tão delicado que o Inter vive em busca de novas e positivas lideranças.
Entenda que não estou chamando Alan Patrick, capitão até sua lesão, de liderança negativa. O meia só não é líder, nunca foi. Sua melhor entrega no Inter e nos times anteriores em que atuou tem relação direta com a qualidade do seu futebol e a raridade de sua característica como meia-armador. Não há como deixar de sentir um certo constrangimento quando se vê o capitão de um time brigando a socos atrás de um dos gols após uma eliminação em campeonato gaúcho. Líderes não fazem isso.
A missão não era maior do que suportaria Alan Patrick, só é diferente do que ele tem para dar. Thiago Maia, não. Assim como Rochet, o goleiro indignado que chegou há pouco tempo e quer ser campeão aqui. Ou como o já citado Thiago Maia, líder pelo exemplo da irresignação e valentia quando sua equipe perdia e era dominada em casa pelo Juventude. O volante mudou a cara do jogo pela atitude. Tinha machucado o joelho minutos antes, sairia depois por causa da lesão.
Mercado ostenta a faixa de capitão atualmente, mas vejo em Rochet e Thiago Maia lideranças com mais poder de transformação. Roger Machado precisará dos experientes para que suportem os meninos talentosos que estão entrando no time face a cirurgia necessária que a equipe precisa. A soma dos jovens com os antigos, desde que ambos tenham qualidade para jogar bola e inteligência para entender o ordenamento pretendido pelo treinador, pode fazer o Inter dar a resposta possível no cenário que o próprio Inter desenhou para o restante da sua temporada.
Não há título a ganhar, não há faixa no peito ou volta olímpica no horizonte de 2024. Pode haver vaga de Libertadores ou Sul-Americana, antes de tudo precisa existir a certeza de que o Z-4 deixará de ser um incômodo no menor prazo.
O novo treinador lida com um passivo horroroso do técnico anterior, demitido entre dois jogos de eliminatória da Copa do Brasil tamanha era a inviabilidade de sua permanência. Só depois de interromper a série de 12 jogos sem vitória é que Roger Machado está começando de fato o seu trabalho que inclui, insisto, mexer em peças e estrutura de uma equipe até então tão derrotada.
Próximo desafio
Ganhar do Atlético-GO, o lanterna, fora de casa, no domingo (18), seria um segundo passo visceral. O Inter somou duas vitórias consecutivas no início do Brasileirão, Bahia e Palmeiras, depois o desce ladeira foi fulminante. Agora, o Atlético-GO se apresenta como o mais fraco time do campeonato, e o Inter tem que vencer para deixar pelo caminho o susto que causou à sua sofrida torcida.
O técnico não pode largar a mão de Valencia, expressão usada por Roger para dizer exatamente isso, "aqui ninguém larga a mão de ninguém". Recuperar o equatoriano para uma entrega minimamente aceitável é a missão da vez para o treinador. Conseguindo, o futuro de médio prazo poderá esboçar um sorriso impossível até três dias atrás.