Um dos orgulhos da torcida do Grêmio na história contemporânea do clássico é a quantidade de vezes em que seu zagueiro argentino anulou o centroavante colorado durante os 90 minutos. Kannemann não se importava com a marca, diziam os gremistas de peito inflado. Podia ser Alemão, de história mais modesta no futebol, ou Paolo Guerrero, autor de gol de título mundial pelo Corinthians. Bastava que vestisse vermelho e fosse para o Gre-Nal e pronto, ia para o bolso de Kannemann.
A história foi ganhando contornos cada vez mais exagerados, o que a tornou mais deliciosa para o lado vencedor. Se Romário pusesse a camisa do Inter e enfrentasse Kannemann, ia para o bolso, debochavam os azuis. Se Van Basten não tivesse feito carreira no Exterior e tivesse a má ideia de jogar um Gre-Nal pelo Inter, ia para o bolso do Kannemann, reforçava outro gremista com todos os dentes à mostra.
Recentemente, Mano Menezes teve a infeliz ideia de colocar no Gre-Nal de pivô, feito um 9 da antiga, um atacante de velocidade e mobilidade, Pedro Henrique, então artilheiro do mesmo Gauchão jogado por Luisito Suárez. O resultado, além da vitória do Grêmio, foi que Pedro Henrique não escapou da piada pronta e, segundo os gremistas, só saiu do tal bolso do zagueiro para ir jogar no Corinthians.
Esta máxima tão comemorada por uma das torcidas começou a mudar no ano passado. O Inter recém tinha sido eliminado nas semifinais da Libertadores. Quatro dias depois, no mesmo Beira-Rio, haveria o Gre-Nal. De forma surpreendente, o Inter juntou os cacos da porcelana e fez um grande jogo. Venceu por 3 a 2, e não seria absurdo se tivesse ganho de cinco ou seis.
A novidade do último clássico foi o duelo Valencia x Kannemann. O equatoriano ganhou com sobras. Não só pelo gol que marcou na zona de atuação do argentino, mas no conjunto da obra. O zagueiro passou a tarde inteira procurando o atacante, cuja velocidade de execução aturdiu o rival de maneira impactante. Pode-se exagerar que nunca se tinha visto um atacante do Inter ter tanta vantagem sobre o icônico zagueiro tricolor.
Neste fim de tarde de domingo (25), o duelo dos camisas 13 e 4 é só uma da atrações do Gre-Nal. Valencia e Kannemann vão dar de frente várias vezes. O defensor gosta de sair à caça, o atacante adora se mexer por toda zona ofensiva. Cada um estará cercado de aliados que tentarão ajudá-los no atacar e no defender.
Mudanças no Grêmio
O Grêmio, de forma sensata, troca peças no meio-campo para se defender melhor. A principal mudança é o ingresso de Du Queiroz à frente da zaga. Villasanti avança uma casa e se soma a Pepê.
Não duvido que haja ainda um quarto homem no meio. Pode ser Cristaldo, a menor chance, pode ser Dodi, o que faria do meio-campo gremista um tranca-rua, ou o recuo de JP Galvão, que deixaria de ser o 9 que não sabe ser para virar um preparador a servir Gustavo Nunes e Pavon, estes sim mais adiantados.
Favoritismo do Inter
Do lado colorado, Valencia estará cercado dos mesmos parceiros daquela vitória de 2023. Alan Patrick anda jogando ainda mais futebol do que antes. Mauricio vinha muitíssimo bem, mas em 2024 só tem a lembrança amarga da fiasquenta eliminação no Pré-Olímpico. Aránguiz agora é primeiro volante e Bruno Henrique virou acréscimo na comparação com Johnny. Na esquerda, um Wanderson mais atacante do que nunca também promete ajudar Valencia a ganhar seu duelo particular com Kannemann.
O favorito do clássico é o Inter, embora haja gente boa a rechaçar a ideia de que clássico possa ter favorito. Não chega a mudar o curso da humanidade, já que estas pessoas trocam a palavra favorito por "aquele que chega melhor para o jogo", o que nada mais é se não o conceito de favoritismo. O prêmio mais importante de vencer o clássico nem é a vitória por si só. Se o Inter ganha, confirma o primeiro lugar na fase inicial.
Significa que terá, pela lógica da tabela até agora, caminho livre para a final do Gauchão. Só enfrentará times sem série ou de série baixa no cenário nacional nas quartas de final e nas semifinais. Ao mesmo tempo, uma vitória colorada empurra o Grêmio para um enfrentamento na semifinal com o outro time de Série A no Gauchão, o Juventude. Então, o Gre-Nal que sempre se basta pela sua grandeza traz intrínseco outro valor pelo qual vale muito a pena correr.
Não perca a extensa cobertura da Gaúcha para o Gre-Nal 441, este que confronta o 13 e o 4, este que mexe com a alma de milhões de pessoas mundo afora, este que lida sempre com números estratosféricos e volta os olhos do país para o canto mais extremo ao sul do seu território. Estou na barca.